Do blog Cabeça de Pedra
As seringas com as doses estavam prontas na bolsa que deixou no carro. Ele tomou um pico antes de chegar naquele lugar. Estacionou. Ouviu ao longe o som de batuques. Entrou. O espaço estava lotado. Ele ficou com vontade de voltar e injetar mais cocaína. As arcadas dentárias travavam uma luta. Grudadas. Um anjo vestido de branco o viu e o chamou. Levou ao senhor de cabelos grisalhos. Ele estava sentado e olhou na alma daquele que nunca tinha visto antes. Este se acalmou um pouco. O senhor falou como a entidade que tinha baixado. Ele ouviu e nunca mais esqueceu. Ouviu que estava muito atrapalhado, mas que sairia daquilo. Que iria pairar sobre as pontas espinhosas da vida. Então saiu, pegou o carro e atravessou a noite injetando mais. Anos depois retornou ao mesmo lugar. Ouviu o som dos atabaques, prestou atenção nas letras das músicas, sentiu de novo a força do mar, das matas, das cachoeiras, das pedras… E viu o mesmo santo rindo e dizendo feliz que o menino tinha dado trabalho, mas conseguido.