Do blog Cabeça de Pedra
Um dia deu o pandeiro para a namorada. Ela gostava, mas nunca o tocou. Toda vez que ia à casa dela, olhava-o ali exposto numa estande. O couro tinha umas manchas do bicho e um carimbo escrito contemporânea. Ele reparava nisso e naquelas orelhas de lata – ouvia um som que parecia vir de longe, lá do fundo de sua mente. Um dia, escondido, pegou o instrumento, sentiu-o na mãos e, num canto da casa que estava vazia, bateu. O coração pulou. Ele bateu de novo. E aí começou a tocar num ritmo que fazia seu pé direito acompanhar. Se flagrou cantando no compasso – e contando uma história que também vinha lá do fundo da alma e tinha a ver com a vida vivida, a vida real. Descobriu, então, de repente, que era um repente. Aí foi para a praça tocar.