Da Folha.com
Sob Dilma, desigualdade cresce em 2013 pela primeira vez desde 2001
No penúltimo ano do governo Dilma, o processo contínuo de melhora da distribuição de renda se estancou e já sinaliza um retrocesso nessa tendência, vivida pelo país desde o Plano Real.
O índice de Gini, medida de desigualdade, mostrou uma discreta piora de 2012 para 2013. Passou de 0,496 para 0,498 no indicador que mensura exclusivamente a distribuição dos rendimentos do trabalho –melhor referência disponível na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada nesta quinta-feira (18) pelo IBGE.
Na mesma tendência de ligeira piora, o índice de Gini que mede todas as fontes de rendimento (aposentadorias, transferências do governo, aluguéis e rendimento de aplicações) subiu de 0,504 para 0,505 entre 2012 e 2013. Quanto mais próximo de zero, melhor é a distribuição da renda do país.
Em ambos os casos, foi o primeiro aumento desde 2001, período para o qual o IBGE tem dados disponíveis sob o novo modelo da Pnad. Mas os levantamentos anteriores com base em dados do próprio instituto oficial de estatística apontavam para uma melhora contínua desde 1995, mais forte nos primeiros anos do Real e no primeiro governo Lula.
Para a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, a elevação do índice de Gini não corresponde a interrupção do processo de melhora da distribuição de renda, mas sim a “uma estabilidade” dessa tendência. “Não há uma melhora porque o índice subiu. O que podemos dizer é que há uma estabilidade. Precisamos pensar agora em outras políticas para o país voltar a avançar em termos de igualdade. O Brasil, apesar da grande melhora que ocorreu nos últimos anos, ainda é um país bastante desigual.”
Um dos focos, diz, deve ser a população de 15 a 17 anos, assediada pelo mercado de trabalho e que sai, por este motivo, da escola. Esse grupo, diz, já tem um rendimento próximo ao do salário mínimo, mas ainda inferior. “Se essa faixa etária não permanecer na escola, ficará provavelmente para o resto da vida com esse rendimento.”
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DISPARIDADE DE SALÁRIOS
A desigualdade cresceu especialmente porque a renda dos 10% mais riscos sobe mais (5,7%) do que a dos 10% mais pobres (3,5%). Esse cenário se dá diante do fraco crescimento econômico, da freada do mercado de trabalho e especialmente do pequeno crescimento real do salário mínimo –2,3%, ante 10% em 2012.
Para Gabriel Ulyssea, economista do Ipea especializado em mercado de trabalho e desigualdade, os dados mostram um “retrocesso” na trajetória de melhora contínua da distribuição de renda do país desde o Plano Real.
Em 2012, diz, a queda da desigualdade já mostrava uma forte desaceleração. Agora, avalia, o dado de 2013 “confirma uma mudança de tendência”.
Segundo Fernando Holanda, economista da FGV, já se notava uma “deterioração do mercado de trabalho” no ano passado, que se intensificou neste ano e desaguou na piora da distribuição da renda.
Holanda diz que a menor expansão do salário mínimo em 2012 (2,3% por conta da fórmula que considera o PIB de dois anos antes) é um dos motivos para o crescimento da desigualdade. É que as faixas de renda menor estão mais vinculadas ao mínimo, diferentemente das mais elevadas.
PIB FRACO
Para Ulyssea, o fraco crescimento econômico tende a restringir mais o rendimento e o emprego das faixas de menor renda. “O baixo PIB é ruim para todos, mas prejudica mais os trabalhadores de menor qualificação, que são mais vulneráveis à perda do emprego. Sem estarem empregados, sua renda cai a zero de um mês para o outro.”
Como “saída” para o país voltar a melhorar a distribuição de renda, o economista aponta o caminho do aumento da produtividade do trabalho, por meio da maior qualificação e instrução da força de trabalho, mais do que alargar programas de transferência de renda.
“Será mais eficiente investir na escolaridade e na qualificação e aumentar a possibilidade de melhores rendimentos dos trabalhadores de renda menor. Não quer dizer que o Bolsa Família tenha de ser reduzido. Nada disso. Trata-se apenas de uma questão de dar mais ênfase a programas de qualificação.”
BOA NOTÍCIA
A única boa notícia dos dados da Pnad no campo de rendimento e igualdade é o fato de que o rendimento do trabalhador segue em expansão, com alta de 5,7% em 2013. “É um aumento robusto, sem dúvida, mas o problema é que os maiores rendimentos subiram mais”, diz Holanda.
O rendimento médio mensal real de todos os trabalhadores em 2013 foi estimado em R$1.681. A renda dos homens era de R$ 1.890,00 e a das mulheres ficou em R$ 1.392,00. As mulheres recebiam, em média, 73,7% do rendimento de trabalho dos homens. Em 2012, essa proporção era de 72,8%.
Todas as categorias tiveram aumento da renda, com destaque para servidores públicos estatutários (5,9%). Os demais tiveram alta abaixo da média: trabalhadores com carteira (4,4%) e trabalhadores sem carteira (5%).
Em 2013, os maiores rendimentos do país eram dos trabalhadores do Distrito Federal (R$ 3.114) e São Paulo (R$ 2.083). Já os mais baixos ficaram com Piauí (R$ 1.037) e Ceará (R$ 1.019).
Dentre os Estados, a renda subiu mais no ano passado em Amazonas (12,8%), Rio Grande do Sul (11,4%) e Bahia (10,3%).