Do blog Cabeça de Pedra
Acordou e viu o poste a poucos metros. Esticou os braços e segurou firme o volante do carro. A pancada foi seguida de um estrondo. Conseguiu abrir a porta. Atravessou a rua e foi sentar na outra calçada. O transformador em chamas. Todo o bairro no escuro. Madrugada. Algumas pessoas tentaram falar com ele. Desmaiou. Acordou numa mesa metálica de pronto socorro. Olhou para quem o olhava. Jovens estudantes de medicina, imaginou. Xingou a todos, indistintamente. Disse que eles não sabiam o que estavam fazendo. Mais tarde saiu dali com pontos no nariz e na cabeça. Ainda estava bêbado. Foi para casa. À noite voltou a beber. Sem o carro, que teve perda total. Passados muitos anos, olha-se no espelho e vê as cicatrizes. Não bebe há anos, mas concorda que os alunos não souberam costurar sua fachada.