De Carlos Heitor Cony sobre a disputa presidencial:
…. No imenso flá-flu eleitoral, Dilma, a ex-guerrilheira que lutou contra o regime militar, transformou-se ela própria numa espécie de direita na medida em que governou e ameaça governar em defesa de um statu quo que ela mesmo e o PT criaram nos últimos oito anos.
Sua adversária promete austeridade, defesa ambiental e moral. Até certo ponto, é um enigma que dificilmente será decifrado. Desconhece-se sua aptidão executiva. Tudo o que fez e faz é a repetição dos bons modos prometidos até pelos candidatos mais obscuros a vereador de municípios igualmente obscuros.
Entre as duas, meu coração e meu voto não balançam.
A solução seria votar em Aécio Neves, mas estou dispensado desse dever cívico. Mesmo que fosse obrigado, não votaria em ninguém. Já disse e repeti que não creio na democracia representativa.
Em 90% dos casos de corrupção, os representantes tomam compromissos que envolvem desde dinheiro para o “caixa dos partidos” até tempo de televisão. Já declarei, na tribuna da Academia Brasileira de Letras, que sou um anarquista triste, humilde e inofensivo.
Com todo respeito, mas o Cony deve estar gagá. Dizer que é contra a democracia representativa, que é, ainda, dos males o menor, é o mesmo que se posicionar a favor de ditaduras, de direita ou de esquerda. Falar que votaria em Aécio, entre as três opções, deve estar ligado ao machismo imemorial arraigado no inconsciente coletivo brasileiro.