por Marco Antonio Gonçalves
Pela primeira vez, desde 1994, a disputa eleitoral para a Presidência da República vê-se muito próxima de escapar do confronto entre um candidato do PT e outro do PSDB. O fato de que essa passagem histórica tenha se aberto para Marina Silva faz dela a grande novidade em cena.
Não que a personagem fosse desconhecida, um enigma ou uma aventureira remota, como se levantou. Afinal, possui longo passado de atuação na área ambiental, ascendeu na política militando no PT, foi senadora e, por cinco anos, ministra de Lula. Está, além disso, em seu segundo pleito presidencial.
Não é difícil apontar ambiguidades, indefinições e incongruências no projeto de terceira via –em especial quando exagera no “cross-dressing”, combinando peças íntimas dos guarda-roupas de petistas e tucanos.
Mas essa flexibilidade, digamos, “transideológica” da candidata, que irrita os oponentes, é o que a leva ao encontro da verdadeira novidade do processo: o desejo social difuso de mudança, associado à rejeição do sistema político, que se corrompe e fracassa ao responder às demandas sociais.
O caleidoscópio doutrinário de Marina parece espelhar muito bem a explosão multifacetada de Junho –ainda que não os seus extremos.
Ao expressar essa vontade difusa de virada de página, a ex-vice de Eduardo Campos faz lembrar um pouco a trajetória do presidente norte-americano. Marina, a Obama do seringal. Ele também encontrou-se com um forte sentimento mudancista, que o transformou em fenômeno eleitoral. E tentou conciliar, como Marina acena, opostos em seu governo. Ambos têm em comum a pele escura –marca de excluídos históricos, que ajuda a compor o herói.
O problema é que, como Obama, a ambientalista, se eleita, poderá naufragar em muitas de suas promessas. Ele contava ao menos com o apoio de uma estrutura sólida. Ela, além da caneta, terá nas mãos um novo partido para receber a onda migratória que acompanha os vitoriosos.
Não há nada de “misterioso”, aliás, na maneira como Marina poderá reunir oponentes: por meio de alianças, da oferta de perspectivas no poder e de um guarda-chuva partidário para quem quiser migrar.
Difícil crer que isso possa prescindir de negociações de cargos e troca de favores. No melhor dos casos –hipótese sonhática– esse processo de adesões e formação de governabilidade pode ser beneficiado por alguma redução de danos. E para isso, a rejeição da postulante a um segundo mandato –”política nova?”– pode fazer alguma diferença.
Muita água ainda vai rolar. Marina não ganhou a eleição. E já tropeçou. O recuo na redação do programa de governo, tornando-o mais enrolático e arregático na defesa dos direitos gays, decepcionou muita gente e virou assunto. Menos talvez pelo texto (que acabou ficando satisfatório no atual contexto eleitoral) e mais por ela ter deixado a impressão de que se acovardou diante da ameaça fundamentalista, na figura do pastor Malafaia.
Outros episódios desse tipo virão? Difícil dizer. A troca no programa de governo vai mudar as pesquisas? Provavelmente não, embora Dilma tenha cortado a bola levantada ao se declarar a favor da criminalização da homofobia.
Por fim, mas não menos importante, consolidou-se um fator crucial: a candidata à reeleição ofereceu aos adversários inestimável ajuda ao coordenar a campanha eleitoral com um período de economia estagnada e inflação alta. É uma fórmula mortífera.
*Publicado na Folha.com
Quem vai derrubar a Marina é a Globo, Veja, Folha e Estadão. Neste fim de semana a capa da Veja vai ser CRIME ELEITORAL !!!! . O discurso é que o crime eleitoral do avião tira a legitimidade da candidata para ser a presidente. O Lula não esta a vontade para bater por que vieram no mesmo caminhão. Então quem aposta ?
Quem vai derrubar a Marina é o vento,essa senhora deve comer cenoura(no bom sentido) o dia inteiro.