por Ivan Schmidt
Dilma, Marina e Aécio, na ordem exibida pela última pesquisa Datafolha (que pode mudar) disputam voto a voto a prerrogativa de exercer a presidência da República a partir de 1º de janeiro. Pastor Everaldo, que tem a maior densidade de intenções de voto entre os candidatos nanicos, contabilizada a vastidão numérica do eleitorado evangélico, poderá se transformar no fator de garantia do segundo turno, para o qual Marina desponta com pequena vantagem.
Como dizia um velho conhecedor da política as pesquisas refletem o pensamento momentâneo do eleitor, comparando o fato com os vendedores de melancia nas feiras, que passam aos fregueses um pedacinho da fruta para a degustação. O comprador em potencial não precisa comer a melancia inteira para saber se todo o resto tem sabor igual, e o mesmo ocorre na pesquisa eleitoral.
Hoje o quadro é o que foi mostrado pelo pedacinho de melancia servido pelo Datafolha: ficam mantidas as intenções de voto em Dilma e Aécio (de segundo caiu para terceiro), mas se destacou o surpreendente desempenho de Marina, que mesmo sem ter a candidatura oficializada pelo PSB apareceu em fulgurante segundo lugar e, por cima de tudo com leve favoritismo para o sprint do turno final.
Ninguém pode jurar, entretanto, que o cenário exibido pela primeira pesquisa realizada após a morte de Eduardo Campos não venha a sofrer novas modificações. Mineração, urna eleitoral e barriga de mulher grávida, diziam os mineiros do tempo em que boi voava, só abrindo para ver o que vai dar.
O convencimento geral é que a emotividade causada pela morte trágica de Eduardo Campos contribuiu em grande medida para a óbvia indicação do nome de sua companheira de chapa. É também verdade que Marina reapareceu na disputa com o mesmo capital de votos mostrado sucessivamente em pesquisas anteriores, sempre em segundo lugar, no período em que tentava legalizar o seu partido Rede.
Na condição de vice de Eduardo ela não conseguira transferir seus votos para o líder da chapa, e seus eleitores já estratificados (jovens universitários, classe média e ambientalistas) permaneceram em visível orfandade sem migrar para Dilma ou Aécio. Agora voltam a todo pano, engajados na mesma corrente marinista que na eleição de 2010 obteve cerca de 20 milhões de votos.
O principal problema a ser enfrentado pela candidata “socialista” é o choque ideológico com alguns dirigentes do PSB e demais partidos da coligação em torno de questões que dizem respeito ao modelo de produção, especialmente o agronegócio. A própria indicação do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) para a vice-presidência, político alinhado com os interesses dos grandes produtores rurais e defensor do plantio de transgênicos, que poderia ser tomada como um agravo às posições fartamente conhecidas de Marina foi passada à opinião pública como uma obrigação bem-resolvida por políticos imantados pela consciência ética e moral da mudança.
Líderes do bloco apoiador de Marina, especialmente alguns governadores estaduais revelaram sua plena confiança no pacto celebrado com a candidata, com vistas à manutenção de um clima harmônico ao longo da campanha com a devida atenção às peculiaridades regionais.
Marina, porém, não abriu mão de isentar-se de fazer campanha ao lado dos governadores tucanos Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR), apoiados pelo PSB. Quando for necessário, o candidato a vice-presidente e outras lideranças partidárias assumirão o encargo.
No caso do Paraná a reação é compreensível, diante da histórica subserviência do PSB a governantes conservadores e neoliberais, caracterizando uma prática enviesada àquela efetivamente recomendada pelo partido. Ademais, a imperceptível expressão política dos socialistas no estado, decerto deve ter influenciado a decisão de Marina Silva.
Com o início da propaganda eleitoral em rádio e TV e a exposição dos candidatos no oceano de entrevistas, debates e sabatinas promovidos pelos meios de comunicação, entidades de classe, universidades e quem mais queira (a verdadeira campanha), a tentativa é adivinhar quem terá mais balas na agulha, o discurso político com maior poder de convencimento, enfim, o potencial rigorosamente calculado para crescer no imaginário do cidadão com direito a voto.
Os estrategistas e marqueteiros de plantão devem estar revendo o planejamento das campanhas, sobretudo pelo impacto causado pelo súbito ingresso de Marina numa corrida que já havia começado. Não há dúvida de que o alvo preferencial de Marina e Aécio venha a ser a presidente Dilma Rousseff, aliás, refém de um passivo governamental assustador que se resume no sofrível crescimento da economia puxado pela drástica diminuição da produção industrial, consumo represado pelos baixos salários, ameaça da inflação e desemprego.
No programa Roda Viva da segunda-feira passada, o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, ao esmiuçar a pesquisa que apontara Marina em segundo lugar e com possibilidade real de ganhar no segundo, revelou que o ex-presidente Lula continua sendo o “grande eleitor” brasileiro, com a capacidade comprovada de decidir o voto de pelo menos 30% do eleitorado. Dilma tem pouco mais que isso, o que se considera também o escore tradicional do PT ao longo de sua história.
Resta saber se os argumentos do ex-presidente em defesa de Dilma e dos candidatos do PT nos estados onde disputa o governo (no Paraná a impressão é que a vaca já foi para o brejo), serão suficientes para aumentar o cacife da candidata à reeleição. Uma pequena amostra dessa dificuldade foi dada pela própria Dilma na decepcionante entrevista ao Jornal Nacional, na qual nenhuma das perguntas foi respondida de forma clara e insofismável.
Lula, que também nunca soube de nada, dificilmente terá razões incisivas para elucidar a opinião pública quanto ao comportamento das principais lideranças do partido no episódio do mensalão, e o aluvião de assaltos aos cofres públicos cometidos por figuras de proa do governo, uma herança maldita que, afinal, coube a Dilma extirpar.
Entretanto, depois de tanto tempo ainda se deve à sociedade a explanação da engenharia que resultou na nomeação para os ministérios vagos, de substitutos na maioria das vezes indicados pelos que foram exonerados a bem do serviço público. Ou seja, no lugar ocupado por alguém suspeito de corrupção entrou um preposto treinado para não fazer a mínima investigação dos malfeitos. Mesmo que nenhum dos acusados tenha sido condenado, como se defendeu a presidente.
Restando aproximadamente seis semanas para o primeiro turno de 5 de outubro, a percepção formada sobre a pugna pela presidência da República, é que essa será uma das eleições mais acirradas dos últimos tempos, na qual em tese poderá haver a superposição do espírito revanchista característico do “nós contra eles”. O mesmo raciocínio é válido para o clima efervescente observado em alguns estados, e o Paraná não foge à regra.
Uma eleição, por menor que seja a sua importância, nunca é um jogo de palitos ou um torneio de trovas. Os ânimos se exacerbam e os costumes podem resvalar para a sarjeta. Não é exatamente esse o comportamento que o eleitor espera dos candidatos. Túlio Bandeira, um dos candidatos ao governo apelou aos contendores que o acompanhem numa campanha de alto nível e respeito mútuo.
Para alguns será difícil manter a serenidade. Mas a norma aceitável para o equilíbrio e a compostura civilizada, ao que parece, está sendo graciosamente oferecida pelo candidato ao Senado, Batista Pilar, o “bonitinho da mamãe”…
Como diria o beduíno diante da tribo inimiga: “Que Alá nos proteja”!
O choque ideológico já começou a produzir estremecimentos entre Marina e dirigentes do PSB. O primeiro a pedir o boné foi o secretário-geral do partido e coordenador da campanha de Eduardo, preterido pela ex-seringueira e mulher da floresta.
A Taquara Rachada, tem o apoio da Miss Itaú, aquela que tem nome de casa de tolerância, a Neca Setúbal. Vai aumentar os juros para a patuleia correntista. Afinal não se trata de ação entre amigos, mas simplesmente negócios. Ou pensam que banqueiro tem ideologia ou coração ?
O “xoque” ideológico a que se refere o Ivan tem muito a ver com o “xoque de jestão” do Kne, ninguém sabe e ninguém viu. Dos três (patetas) ainda não consegui distinguir qual deles é o pior. Mas o que mais me preocupa é que eu vou ter que me decidir, porque nulo ou em branco não voto.
Perdão, onde se lê Kne, leia-se Ken.