Do blog Cabeça de Pedra
Candidato a que, mesmo? O outro não podia responder. A ponta do cano do Colt Python fazia cócegas na úvula da garganta, mai conhecida pelo povão como campainha. O dedo estava no gatilho e o cão puxado para trás. O candidato podia ver a ponta de algumas balas – tinham uma cruz, mas não eram de prata. Pensou nos filhos. Lembrou que há muito tempo não fazia isso. Sua vida era inteiramente dedicada à política parlamentar. Foi assim que ganhou fama como articulador de primeira, capaz de eleger prefeitos, governadores só com uma aceno de mão – enquanto a outra esperava para o pagamento gordo durante todo o mandato. Os filhos estavam fora do país, estudando para manter o patrimônio amealhado nos acordos que os que o elegiam nunca souberam. Era amigo de todos os empreiteiros e só conhecia a periferia porque obrigado até a comer sarapatel e quiabo gosmento na busca de votos. Candidato a que, mesmo? Ouviu de novo e jamais imaginou que, numa sociedade democrática iria passar por uma situação como aquela. Não conhecia o homem que empunhava aquela arma com uma segurança impressionante. Piscou uma, duas vezes. O cano saiu da boca e ele disse em meio a um suspiro longo: “A nada!”. O outro guardou a arma e foi em busca do próximo. O que deixou para trás convocou entrevista coletiva para o dia seguinte. Anunciou que, por motivos particulares, estava desistindo da candidatura e da longa carreira política. Nada mais disse e não permitiu perguntas. Sumiu da vida pública. Hoje gosta de ficar o dia todo vestido com um pijama listrado. Com problema sério na próstata, a calça sempre está molhada/manchada.
Seria um killer?
Caraio….