por Ivan Schmidt
A história do anti-semitismo é milenar e, portanto, difícil e arriscada torna-se a tarefa de recontá-la, sobretudo, quando o recurso é valer-se de fragmentos colhidos aqui e ali, ao longo do tempo. E, apesar da abundância enciclopédica de dados e fatos, há os que teimam em sustentar que tudo não passa de invenção para justificar o injustificável.
Edward H. Flannery, um sacerdote católico norte-americano, publicou em 1965 o livro a que deu o título de Angústia dos judeus (História do anti-semitismo), traduzido no Brasil três anos depois pela Instituição Brasileira de Difusão Cultural (Ibrasa), notável empreendimento do jornalista José Reis. O subtítulo usado pelo autor, que a tradutora brasileira (Olga Biar Laino) achou por bem substituir, é “23 séculos de anti-semitismo”, que expressa de modo mais categórico uma realidade incontestável.
Diz ele que o anti-semitismo racial irrompeu na Alemanha na década de 1870, de onde se espraiou para a Áustria-Hungria e França, reverberou na Rússia, depois acalmou-se até seu clímax sangrento ser atingido na Alemanha nazista. Foi também a Alemanha que legou ao mundo a expressão anti-semitismo, empregada pela primeira vez em 1879 pelo escritor Wilhem Marr, no livro A vitória do judaísmo sobre o germanismo. No dizer de Flannery “sombria advertência de um racista alemão sobre a dominação judaica da vida alemã”.
A teoria da inferioridade racial – prossegue o autor – pode ser seguida até a apoteose do Estado e do espírito germânicos em Hegel, passando mais tarde pela distinção lingüística entre ariano e semita e confluindo na direção de uma distinção racial. Na França, o arauto do racionalismo foi Ernest Renan (1823-1892), que expunha sem reservas a ideia de que os judeus pertenciam a um status de raça inferior. Em suma, Flannery revela que “no campo da ação racista, a raça semita era considerada física, moral e culturalmente inferior à raça ariana; os judeus, principalmente, eram apontados como incomparavelmente inferiores aos arianos alemães, assim como manifestamente inassimiláveis e pervertedores”.
Nos últimos anos do século 19, “uma hoste de filósofos, pseudocientistas, demagogos e panfletários variaram e orquestraram abundantemente este tema”, acrescenta.
Causas socioeconômicas também ajudaram a aguçar o debate sobre as teorias raciais. A escola hegeliana tinha gerado um exacerbado nacionalismo germânico, do qual resultou o combate à assimilação dos judeus, que era um fato inegável. A especialização judaica no setor financeiro, que o governo alemão estimulava, pôs em evidência um grande número de judeus endinheirados, repetindo o que havia ocorrido com os “judeus da corte de séculos passados”, conforme o historiador católico.
Na altura de 1879, Flannery relata a existência de verdadeira fúria contra os judeus molestados em toda a Alemanha, tanto física quanto verbalmente: “O principal agente do governo era Stoecker, capelão protestante da corte, que fundou a União Social Cristã de Trabalhadores”, uma entidade notadamente anti-semita programada para lutar contra o chamado “socialismo judaico” e a “dominação da vida alemã pelos judeus”.
Na Áustria, por volta de 1880, a escalada de ódio aos judeus tinha raízes bem fundadas, surgindo logo vários partidos, dentre eles um que se caracterizava pela ideologia socialista, liderado por Georg Schoenerer, um dos mentores políticos de Adolf Hitler. Os judeus sofriam restrições no comércio e nas universidades. Dez anos mais tarde os anti-semitas eram acolhidos livremente pelos partidos de orientação clerical, como o Partido Social Cristão, cuja figura mais expressiva – Karl Lueger – seria eleito para a prefeitura de Viena.
O plano geral da obra escrita por Flannery ajuda a compreender melhor certos desdobramentos: “Lueger permaneceu no cargo até sua morte em 1910, e em dado momento recebeu a visita do jovem Adolf Hitler, admirador que chegara a Viena para estudar o ‘problema judaico’. Surgiram organizações cristãs para defender os judeus na Áustria, assim como na Alemanha, porém sem eficácia”.
Já em 1881, porém, a epidemia chegava também à Rússia, território em que os judeus ainda viviam em condições deprimentes e a mais leve faísca era suficiente para reacender a velha fobia contra os filhos de Abraão. “A era dos pogroms aproximava-se”, escreveu Flannery ao citar que mais de uma centena de comunidades judias foram atacadas e muitos habitantes feridos ou mortos. “Embora não se possa dizer com certeza que o governo instigou deliberadamente os pogroms, é certo que foram perpetrados com a sua conveniência. Os camponeses não escondiam o fato de que acreditavam estar fazendo a vontade do czar. O governo pôs a culpa dos pogroms na exploração judaica dos camponeses – acusação que, seja qual for o seu fundamento, foi amplamente exagerada e desproporcional ao remédio desumano”.
Flannery lembra que “a reação mundial teve grande repercussão” com protestos públicos em Londres e nos Estados Unidos. Mesmo assim os massacres de judeus continuaram até o final do ano.
Uma tentativa insana de forjar argumentos favoráveis ao anti-semitismo foi o aparecimento de Os Protocolos dos sábios de Sião, que Edward Flannery definiu como “a maior falsificação do século”, obra de anti-semitas russos a serviço da Okrana, a polícia secreta do czar. O livro surgiu em 1905 – distribuído pelo governo russo – como parte de uma obra maior do místico Sergei Nilus, que por sua vez assegurava tê-lo recebido em 1901 de um conhecido, aparentemente como excertos dos debates travados durante o Congresso Sionista Mundial de 1897, na Basiléia, dando conta dos planos para a conquista mundial, pretensamente oriundos do reinado de Salomão em 929 a.C.
Na essência, escreveu Flannery, os Protocolos constituem uma série de 24 conferências de eruditos talmudistas judeus sobre planos e estratégias para subjugar o mundo e estabelecer um estado judeu internacional, compreendendo “uma coleção heterogênea de exemplos da dominação secreta na história e de planos para o futuro, incluindo métodos de estupidificar gentios, controlar a imprensa, as finanças e os governos”.
Tamanha aberração foi traduzida para os principais idiomas e essa algaravia teve ampla repercussão nos Estados Unidos, graças ao esforço pessoal e o financiamento feito pelo miliardário Henry Ford.
E pouco tempo depois essa farsa foi o ingrediente que faltava para engrossar a nauseabunda sopa cozinhada por Adolf Hitler e seu bando de fanáticos.
O incompreensível é saber que já em 1921, um jornalista do Times de Londres percebeu estranha coincidência entre trechos dos Protocolos e uma sátira sobre Napoleão III escrita pelo advogado francês Maurice Joly, desmascarando o plágio perpetrado pelo obscuro agente anti-semita do escritório parisiense da Okrana, no final do século 19.
Então sr Ivan,passamos nossa vida toda falando em Anti-semitismo,holocaustos e raça mais-menos ou maior que as outras.
Na verdade somos meros sacos de ossos adiados e o resto sub nitrato de amônia.
Na verdade os europeus queriam os judeus fora da europa não seria pela cor,tamanho do pênis ou seu perfil viril com as mulheres europeias,mas a falência de pequenos empresários ferramenteiros onde o judeu com sua irmandade coesa fazia “dumping”e depois comprava barato as industrias.
Essa forma de cartéis não indignava só os alemães,mas toda a Europa e veio a guerra e com a guerra as barbáries dos dois lados.
Assim com muito dinheiro e Hollywood nas mãos,passaram para o mundo em tecnicolor aquilo que aconteceu com eles e com isso tiraram muito proveito politico.
Foram voltando para a Palestina com a promessa de levar dinheiro e progresso para a região dos seus primos esmaleitas,mas ai levaram tanques e aviões de guerra.
Hoje se sentem como os alemães se sentiam na década de 40,superiores a todas as raças do mundo,tanto que matam 30 palestinos para cada soldado israelense,não se importando que seja mulheres velhos e crianças e a cada 6 meses quando as bombas estão na fase de vencimento,jogam elas todas na faixa de gaza para que possam ser utilizadas a tempo.
Desculpe minha sinceridade,mas o mundo é assim e eu não acredito que eles foram os unicos escolhidos para serem filhos de Deus.
Esses comentários são instrutivos e vêm a calhar no presente momento. Muito bom mesmo. Parabéns.
Infelizmente parece que não aprendemos nada com a História, Hoje apavorados vemos os Balcãs, de tão triste memória, mergulhado em lutas fratricidas. E a Palestina em outra guerra de limpeza étnica, agora perpetrada pelos descendentes dos judeus massacrados em pogroms na Europa dos séculos XIX e XX. A desgraça do anti-semitismo, , do preconceito racial, religioso e étnico parece nunca ter fim. É bom que saibamos o quanto podemos causar mal uns aos outros, e também quanto possamos evitar estes males.