por Sérgio Brandão
Ontem recebi cabeleireira em casa. Tive direito a unha e cabelo. Um pouco de pintura, esmalte e cutículas feitas. Toda a operação levou quase meia hora.
Assim que chegou, a moça deu uma olhada no meu cabelo e disse que “um tom de cinza suave ficaria bom”- não levou em conta meu pedido que era pelo castanho escuro.
Um pouco atrapalhada no começo, mas depois foi tomando conta da situação e dando mais sugestões nas cores. Percebi logo que era uma de suas brincadeiras preferidas. Ela gosta de cores e assim que se sentiu mais a vontade, tirou de seu estojo uma porção de lápis coloridos. Segundo ela, todos para pintura das mãos e também dos cabelos. A mesma utilidade para vários fins? Pensei: deve ser a modernidade, tudo hoje é mais prático mesmo.
Operação em franca produção. Fio por fio, um dedo de cada vez. Na mão da moça, muitas cores. E o cinza suave, que ela sugeriu?
Depois de alguns minutos, fiquei com medo de olhar no espelho. Podia não ser mais eu. Achei que podia estar sendo preparado para habitar um dos viveiros do Passeio Público. Lembrei daquele vídeo que rolou na internet do pai de uma menina que abre a porta a um amigo e estava mais parecendo uma arara.
Na mão da maquiadora vejo uma mistura de cores fortes que parecia um arco-íris: laranja, azul, verde, amarelo…
Com medo de frustrar todo o trabalho de criação, com os olhos consigo perguntar se aquilo tudo era pro meu cabelo? Ela me olha sorrindo e diz: “Pai, fique quietinho, assim você me atrapalha”.
Para meu alívio, finalmente veio a pergunta que me salva: “Você quer de brincadeira ou de verdade?”