Do blog Cabeça de Pedra
Um dos textos mais lidos do Luis Fernando Veríssimo, que não é do Luis Fernando Veríssimo, é o da caganeira. O grande escritor jamais escreveria isso, mas a merda se espalhou. Muita gente riu – e muita gente chorou porque passou por situação semelhante. Como aquele menino que, entusiasmado, foi conhecer uma chácara de ricos onde trabalhava como caseiro o irmão do vizinho. Viajou de trem na ida. Voltou de ônibus. Viveu aventura na ida por problema simples: perderam a conexão e os dois acabaram pegando carona no meio da madrugada num trem de carga. No retorno, o horror. Entrou, sentou na poltrona lá no fundo e assim que o motorista embicou na estrada, atacou-lhe aquela dor de barriga que o Veríssimo falso descreveu. Não havia banheiro no veículo. O menino era tímido demais para pedir que o motorista parasse e ele fosse… no mato ou em qualquer boteco de beira de estrada. Não falou nada para o amigo. Suou frio, rezou para que a viagem fosse curta. Com aquela idade, pra que se preocupar com distância? Conseguiu segurar tudo até que o ônibus encostou na plataforma da grande rodoviária. Saiu em disparada sem saber onde ficava o banheiro. Lhe disseram que era no andar de cima. Subiu correndo e, ao chegar na porta… havia uma roleta. Descobriu que era preciso pagar para cagar. Ele não tinha um puto de tostão no bolso. Ofereceu os óculos como garantia. O senhor que tomava conta do banheiro percebeu que o garoto estava apurado pois estava pálido e suava frio. Deixou ele entrar. Uma privada estava livre. Ele baixou as calças – e nada. Imaginou que iria entupir a fossa em várias etapas, mas… nada. A dor foi passando enquanto alguns flatos, puns, peidos, foram saindo timidamente. Ele ergueu as calças, e já ia saindo e, aí, aconteceu. Quando acordou, estava sentado no trono e várias pessoas o olhavam. O menino criou coragem e perguntou o que se passara desde que perdera os sentidos. Ninguém respondeu. Ele levantou e percebeu que estava com a cueca e as calça no lugar. Examinou e viu que não tinha se sujado. Saiu e encontrou o companheiro de viagem, que, preocupado com o sumiço, perguntou o que tinha acontecido. Ele respondeu: “Caganeira psicológica”.