Ilustração de Theo Szcepansnki
por Rogério Pereira
A caminho da escola, nossos diálogos são rápidos, intensos e, às vezes, inacreditáveis
— Vou morar no Japão, pai.
A notícia de que minha filha de sete anos pretende viver do outro lado do mundo não me surpreende. Ela é a mais cosmopolita de nós três.
— E por que no Japão, filha?
— Lá é noite agora, pai?
— Sim. É quase madrugada.
— Quando aqui é dia, lá é noite? E quando aqui é noite, lá é dia?
— Exatamente, filha. Sempre ao contrário.
— Então, vou morar no Japão até anoitecer. Aí, venho pra cá. Quando ficar noite aqui, vou pra lá.
— …
— Vou viver só de dia.
…
Para não ficar de fora da conversa, meu filho — um homem de quase cinco anos — anuncia que vai morar na China.
— Você também quer viver só de dia?, pergunta minha filha ao irmão intrometido.
— Não, né. A China deve ser legal. Todos os meus brinquedos foram feitos na China. Tudo é feito na China.
— …
— Lá deve ter muitos brinquedos. Vou viver na China.
Deixo-os na escola. E sigo para o trabalho.