De Colette para Truman Capote, quando este lhe disse que gostaria de ser adulto:
Mas isso é justamente o que nenhum de nós vai ser um dia: adulto. Você quer dizer um espírito trajando nada mais que um saco de cinzas e de sabedoria? Livre de toda a malícia – de toda a maldade e ganância e culpa? Impossível. Voltaire, até mesmo Voltaire tinha uma criança dentro dele, uma criança ciumenta e irritada, um garotinho imundo que passava o tempo inteiro cheirando os dedos. Voltaire arrastou esse garotinho ao túmulo, e nós vamos fazer a mesma coisa. O papa na sacada… pensando num rostinho bonito da Guarda Suíça. E o juiz inglês de peruca elegante, no que pensa ao mandar um homem para a forca? Na justiça e na eternidade e em assuntos adultos? Ou será que estaria pensando em como se eleger no Jockey Club? Claro, os homens têm grandes momentos adultos, momentos nobres que ocorrem de vez em quando, e dentre todos eles é claro que a morte é o mais importante. A morte sem dúvida põe o garotinho imundo a correr e deixa o que restou de nós como um simples objeto sem vida, mas puro, como a Rosa Branca*. Ponha no seu bolso. Guarde-a como um lembrete de que ser durável e perfeito, ser adulto de verdade, é ser um objeto, um altar, uma figura no vitral: algo a ser celebrado. Mas sério, é muito melhor espirrar e ser humano.
*Peso de papel, de cristal envolvendo uma rosa branca. Confeccionado pela fábrica de Clichy em 1850, conforme descrição no livro “Súplicas Atendidas”