Nesse negócio, o ócio, sou sócio. Assim senti o peso do baú cheio de pedras nas costas. Pensei nos que sofrem da alma. Não tive tempo. Sofri na carne mesmo. Meu cangote é um calo. As mãos, empedradas. Queimadas foram com as barras de gelo que carregava para os barcos dos bacanas, enquanto meus amigos adolescentes dançavam Bee Gees da fase romântica melada. A gente acostuma. Só depois eu soube que meu pai foi mais esperto ao fugir do cabo de enxada para vender leitão nas feiras. Foi assim que colocou o primeiro par de sapato nos pés. Tinha 15 anos. Quando vi Grande Otelo dizer “Ai que preguiça”, não me toquei. Nem ao saber que Dorival Caymmi demorou 10 anos para terminar uma música. Não pude chamar o vento. Servi bêbados em boteco de vila, tomei o primeiro gole e depois carreguei o peso do mundo na cabeça. Pior do que levar engradado de cerveja no lombo. Nelson Piquet começou a me despertar ao dizer para um fotógrafo que queria retratá-lo empurrando um carrinho de pedreiro: “Tá louco? Eu nunca trabalhei na vida”. Muito mais tarde veio esta frase do ócio, do sócio. Assinei embaixo, mas me pergunto se terei tempo para esse negócio.
Vai dar tempo, sim. Nem que você tenha de se fazer de doido. Textaço.