por Alex Palhano*
O negócio é o seguinte: hoje estou aqui pra dizer a você (e a mim) que todos têm mentido pra nós… E faz tempo. Quem? Nossos pais, nossos professores, nossos médicos… E a gente mesmo. É a mesma mentira, a mesma frase: “tudo vai ficar bem”.
Mas e se não for assim? E se experiências são herdadas como cabelo crespo e olhos azuis? E se a dor nos vem no DNA e a tragédia é direto no nascimento? E se, às vezes, quando menos se espera, merdas acontecem. Porque merdas acontecem.
O que todos nós fazemos além de mentir?
Além de mentir, a gente sabe sentir, olhar pra trás e, cedo ou tarde, reconhecer um fato: pra continuar, às vezes, devemos voltar pro final da fila. E começar do zero. Eu sei que não é fácil, mas é a chance de seguir. Talvez o único jeito pra seguir.
Só entre a gente: você nunca se viu numa caixa, preso?! Numa embalagem que não nos cabe?! Esquecemos até como fomos caber nela. A vida in box. E sem se importar como tentamos escapar, nos afundamos cada vez mais. Você nem lembra como chegou a isso, mas de repente sabe (nós sabemos) que a melhor maneira de sair dessa infeliz e incabível caixa é desfazer-se dela de uma vez. É radical. Uma amputação que seja! Arranque-a!
Pensa bem: quem precisa disso, desse encaixe? São tantos: o filho que não suporta você; a família que insiste em ser levada nas suas costas; sua mulher ou seu marido que lhe finge amar; o “seu amor” que não sente nada; o maldito trabalho que você não suportar mais… Por favor, libere-se do sofrimento. E a primeira coisa é admitir que ele existe; só porque achamos por bem, ou que seria “melhor pra todo mundo” cabermos dentro de uma caixa.
Começar de novo não é uma loucura.. Loucura é sentir-se miserável e andar meio dormindo, dormente, adormecido, dia após dia… Loucura é fingir que se é feliz, fingir que as coisas como são têm que continuar pelo resto da sua “maldita” vida.
É nisso que acredito, caro leitor: agora, neste momento, tem alguém com você. Olhe direito. Em volta. Longe ou perto. Há alguém disposto a colocá-lo de pé, sacudir a poeira, beijá-lo, perdoá-lo, suportá-lo, querer você, amá-lo.
Pode ser que nem sempre tudo esteja bem. Mas acredite numa coisa, essa pode ser uma das poucas verdades: não há razão para estarmos sozinhos, ou vivermos o que não queremos.
* Jornalista, cronista e empreendedor
Reflexões em tempos de COVID