7:12Autor do autor

por Ruy Castro

Como era o poeta Jorge Jobim, um desconhecido até para seu filho Tom?

Tom Jobim, morto em 1994, aos 67 anos, faria 93 amanhã e parece tão vivo quanto no tempo em que o Rio o tinha ao alcance de abraços, nas ruas do Leblon, da Gávea e do Jardim Botânico —nunca um gênio foi tão disponível. Sua música continua onipresente, e seu prestígio como autor, intocado. Por acaso, caiu-me às mãos há dias um livro do homem que, para todos os efeitos, poderia dizer-se autor —ou coautor— do autor: seu pai, o poeta gaúcho Jorge Jobim.

Pelas fotos, era um belo homem, vistoso, bem vestido. Tom mal o conheceu. Tinha oito anos quando ele morreu, em 1935, e menos ainda de convívio, se se descontarem os dois anos em que Jorge Jobim, aflito, desorientado, largou a família e foi viver sozinho em Petrópolis, e o ano em que passou internado no setor psiquiátrico da Casa de Saúde Dr. Eiras, em Botafogo, onde morreu, de infarto, aos 46 anos.

E como poeta? O livro que achei num sebo, “Poesias”, não nos diz muito. Jorge Jobim era um parnasiano, discípulo de Alberto de Oliveira, um dos mestres do gênero. O problema era o gênero, definido pelo crítico Agripino Grieco como “de um brilho ilusório, de móvel envernizado”, de poemas tipo “vidros de farmácia, cheios de água colorida” e seus poetas, “comparáveis a leões de mármore, suntuosos e inofensivos”.

O próprio mestre de Jorge Jobim, Alberto de Oliveira, foi chamado por Grieco de “poeta de geladeira”. Jobim não era diferente. Os melhores versos que encontrei nas 240 páginas de seu livro são “As armas com que lutei/ Depus aos teus pés, Senhora./ Como hei de lutar agora?”. Tudo mais é a competência formal, típica daqueles poetas, mas fria, de gesso, até surpreendente num homem tão inseguro, nervoso e atormentado.

Tom era leitor de poesia, só que de Drummond e Bandeira. Falou-me algumas vezes de seu pai, mas nunca como poeta. Fez bem. Se o lesse muito, nunca teria chegado a “Águas de Março”.

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