De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário
OS DOIS PAPAS demoraram, mas começam a se estranhar. E tinha que ser logo por causa de mulher. Francisco, o atual, aprova o fim do celibato dos padres. Em casos excepcionais, como para os padres que atuam em lugares inóspitos, isolados, ermos, no meio do nada, tipo África ou Amazônia. A ideia foi aprovada no último sínodo, realizado na Amazônia. Tanto tempo de confessionário e nada aprenderam sobre casamento.
BENTO XVI, o papa anterior, dito emérito porque está vivo, teria contribuído para um livro de religiosos europeus condenando a orientação de Francisco. Bento escreveu – e agora teria ratificado – que não há por que romper com uma orientação estabelecida há mais de 700 anos. Um não conheceu mulher biblicamente. Outro, Francisco, teve noiva na Argentina, antes de descobrir a vocação religiosa.
LEMBRA a conversa do padre com o rabino, vizinhos de poltrona na viagem de avião. O padre cutuca o rabino sobre as delícias da bisteca de porco e da feijoada, alimentos ímpios na religião judaica. Aguava-se na saliva ao descrever as iguarias. O rabino comia calado de sua marmita cacher, preparada no ritual judeu. Na última garfada, o rabino vira-se para o padre e pergunta: “Padres casam? Rabinos, sim”.
MACHISTAS maliciosos dirão que os papas, o padre e o rabino divergem quanto à comida. Nem uma nem outra coisa. O papa emérito concorda com o padre, no sentido de que a carne feminina não compensa a abstinência da carne de porco. O papa atual alinha-se em parte com o rabino: pode-se conciliar a mulher com a feijoada, desde que a primeira seja consumida em ambientes ermos, inóspitos e inacessíveis.
O INSULTO, católico-apostólico-romano, não vê sentido suprimir a castidade de 700 anos. Se os padres devem casar porque trabalham no forévis do mundo, vai acontecer de gente sem vocação se mandar para lá para arranjar mulher. Absurdo isso de liberar mulher para quem está longe, como se o problema fosse a tentação da carne. Fosse assim, o casamento teria que ser liberado nas grandes dioceses.
A REDAÇÃO do Insulto lembra que hoje é quarta-feira, data municipal da feijoada. E da missa das mulheres na igreja do Perpétuo Socorro, onde este editor jamais comungou com qualquer das beatas. Esteve lá hoje em devoção a todas as virgens. Agora pretende consumir-se na feijoada, que da devoção da outra carne está em jejum mais doloroso que o dos padres da Amazônia.