por Ruy Castro
Sim, abundam más notícias sobre o Rio. Os tempos estão mesmo difíceis, realçados pela atração que, por bem ou por mal, o Rio desperta. Uma galinha pula o muro do vizinho, e o que seria algo trivial em outras plagas ganha as manchetes se o dito muro ou galinha estiver aqui. Segundo as últimas estatísticas, o Rio é a 23ª capital mais violenta do país. Imagino como não estarão as primeiras 22 —mas só posso imaginar, porque os relatos sobre seus perigos e peripécias quase não chegam até nós.
Paradoxalmente, as boas notícias que às vezes poderíamos produzir costumam ficar entre as nossas fronteiras. Fora daqui poucos sabem, por exemplo, que o céu do Rio voltou a ser cruzado por bandos de araras, papagaios e periquitos. É uma papagaiada como há muito não se via —ou se ouvia. E espécies em perigo, como certas variedades de maritacas e maracanãs, foram reinseridas há tempos nas matas cariocas e os resultados já estão à vista.
A lagoa Rodrigo de Freitas, cujas águas melhoraram muito e a vegetação de mangue é hoje espetacular, abriga agora espécimes que não existiam nem no tempo em que o garoto Tom Jobim brincava por ali com água pelas canelas. A lagoa tornou-se um santuário de marrecas, frangos d’água, caranguejos, lagartos, capivaras. E, mais do que nunca, tem justificado o verso da poeta Elisa Lucinda, “Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de garça”.
Nesta época sem chuvas e, por isso, de mares limpos, as praias têm recebido a visita de arraias, golfinhos e baleias jubarte. Em junho, a turma do kitesurf andou filmando tubarões na Barra, o que é sinal de muito peixe e de proliferação da vida marinha.
E, no último verão, eu próprio encontrei dois peixes no meu terraço. Juro. Mas nada demais nisso. Caíram do bico de gaivotas que os pegaram no mar e vieram me sobrevoar. Gaivotas descuidadas também são sinal de que há motivo para esperança.
*Publicado na Folha de S.Paulo