por Yuri Vasconcelos Silva
Bum. Tudo surgiu. Matéria, energia, espaço e tempo. No caldeirão pior que o inferno, tudo estava misturado. Então o tempo, recém nascido, passou e o calor diminuiu. Fótons se liberaram para surgir a luz. O universo ficou transparente. Nódulos de energia pipocaram em pedacinhos de matéria. Quark. Nome estranho, retirado de um livro de James Joyce. Quarks e léptons. O primeiro não suporta existir sozinho, agrupam-se em um ménage à trois para formar um próton. E o lépton? Este é solitário e estranho. Comporta-se como matéria ou energia. Depende como você olha para ele. O elétron, por exemplo. Fica pululando, sumindo e aparecendo em órbitas em torno de uma massa de prótons e nêutrons. São os átomos. O tempo avança. Tic tac. Apesar da natureza deixar claro que ele, o tempo, não tem direção definida. Passado, presente e futuro só existem nesta ordem porque existimos. Tic tac. As coisas continuam esfriando. Se hoje olhar para o céu, um calorzinho ainda persiste. É a radiação cósmica de fundo. O choro final da grande explosão. Naquele tempo, o que era apenas uma força fundamental se bifurca duas vezes. Surge a gravidade, o eletromagnetismo e outras duas que não vem ao caso. A gravidade é muito fraca, mas é persistente. Aglutina a matéria para juntar pedaços de tudo que é sólido. Um disco de poeira se concentra, gira, se acende e brilha quente. No início, a força do fogo é maior que a própria gravidade. Mas não para sempre. A chama acaba e a gravidade vence. Ela engole a estrela por inteiro numa implosão que rebate em ferro e repele, com violência, os restos da velha chama. Uma supernova semeia oxigênio, lítio, ferro e outros elementos forjados em sua fornalha. A gravidade é persistente. O disco continua girando e a música prossegue. Átomos em poeira se tornam pelotas, que se tornam rochas, e então planetas. Aquele primeiro sol que explodiu também criou o carbono, e ele está em toda parte deste planeta. Um novo sol, mais fraco, volta a brilhar no centro deste subúrbio galáctico. Água, nitrogênio, enxofre, carbono num caldo de moléculas se organizam espontaneamente – ou seria milagre? – para formar cadeias moleculares de enzimas, aminoácidos, RNA, DNA. Várias combinações aleatórias ao longo de bilhões de anos – G, A, C, T – produzem seres espetaculares e outros nem tanto. O ambiente elimina estes últimos e somente os bem adaptados, presenteados com uma boa combinação de genes, continuam a se procriar. Uma espécie dá o pulo do gato. Melhor dizer, pulo do primata. Desce das árvores e inventa a linguagem. Torna-se quase imortal pois o conhecimento não mais desaparece, se acumula. São quase 15 bilhões de anos desde o bum que começou a loucura toda. Tanto tempo e acaso fortuito para produzir os atuais dois primeiros lugares na pesquisa à presidência neste país, ou a teoria de que a terra é plana, só prova que o universo é mesmo um lugar violento, indiferente e fadado à morte fria.