por Ruy Castro
Ao acompanhar algumas recentes peripécias dos nossos políticos, vejo que o problema deles é o mesmo que nos aflige a todos: a necessidade da casa própria, de um teto que nos abrigue ou da reforma de uma propriedade para nosso merecido lazer. A diferença é que, para isso, temos de trabalhar a vida inteira. Os políticos têm meios mais eficientes.
A casa de uma filha do presidente Temer, por exemplo, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, foi reformada com material pago pela mulher do coronel João Baptista Lima Filho. Lima é amigo de Temer e suspeito de beneficiar certas empresas do setor portuário. O coronel é um homem grato.
Outro amigo de Temer, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, tentou, em vão, que se aprovasse um empreendimento imobiliário numa área tombada de Salvador, em que possuía um apartamento. Não que Geddel não tivesse onde morar. Ao contrário, como se descobriu depois, dispunha de um apartamento na Graça só para guardar suas economias —R$ 51 milhões em dinheiro vivo, dentro de malas e caixas.
O então governador de Minas Gerais Aécio Neves mandou construir com dinheiro público um aeroporto nas terras de sua família em Cláudio (MG). É justo: onde já se viu família sem aeroporto? Agora há pouco, a irmã de Aécio, Andrea Neves, ofereceu por R$ 40 milhões ao delator Joesley Batista um apartamento em São Conrado, no Rio, que não valia nem R$ 20 milhões. Talvez Aécio e Andrea precisassem do dinheiro extra para comprar dois apartamentos, um para cada um.
E o ex-presidente Lula está todo encalacrado por causa de um tríplexno Guarujá, um sítio em Atibaia, um terreno para o Instituto Lula e mais um apartamento em São Bernardo. Nenhum deles de sua propriedade, como alega. Ora, como não? Um homem tem de morar em algum lugar.
*Publicado na Folha de S.Paulo