por Célio Heitor Guimarães
Damásio de Jesus é um homem que gosta de flores. E o seu gostar vem de longa data. Aliás, para ser mais exato, ele é louco por flores. Essa preferência – confessa – faz parte da sua própria natureza. Aprecia as flores sofisticadas, mas também ama as mais simples. Se alguém lhe perguntar como é, ele diz que é assim mesmo: é capaz de ficar horas e horas contemplando uma orquídea ou mesmo uma simples margarida.
Anos atrás, Damásio quase perdeu o juízo. Neuza, sua mulher, levou-o a uma escola, em Bauru, no interior de São Paulo, e lá ele encontrou uma imensa árvore de flores vermelhas. Resultado: durante uma semana, não falou de outra coisa em casa. Ele queria uma árvore como aquela para plantar em Arealva. Pois Neuza lhe fez uma grata surpresa: deu-lhe de presente oito mudas da planta de flores vermelhas, que se chama eritrina. E todas elas Damásio plantou.
Durante todos os anos cuidou pessoalmente de cada uma delas. Viu as árvores crescerem e, a cada ano, indagava: “Será que este ano elas florescem?” Ficou aguardando ansioso as flores vermelhas brotarem dos galhos. As plantas, porém, não davam a mínima para a impaciência dele. Mesmo assim, cresceram quatro metros.
Afinal, as árvores floresceram. Mas nenhuma flor nasceu vermelha. Desabrocharam brancas, feias, opacas, completamente desbotadas. Damásio ficou triste, decepcionado. Ele queria flores vermelhas, e elas nasceram brancas. Não se conformava de ter esperado tanto tempo em vão.
– Vou cortar estas árvores. Nós fomos enganados – disse à mulher.
Neuza interveio, com o bom senso feminino:
– Você esperou tanto tempo. Por que não espera um pouco mais para ver o que acontece? Quem sabe elas não nascem assim e, aos poucos, vão mudando de cor?
Não é que Neuza, para variar, tinha razão!… As flores brancas desbotadas, de repente, começaram, pouco a pouco, a ficar vermelhas. Um verdadeiro espetáculo. Um deleite. E Damásio sofre só de pensar que, por pouco, a sua impaciência não pôs tudo a perder.
Hoje, Damásio ensina a quem quiser aprender que na vida tudo é assim. Se você sonhou com uma coisa e recebeu outra, confie, espere.
– Se você crê em Deus – assegura – tenha a certeza de que Ele sempre dá o que você precisa, no momento certo. Por isso, em vez de duvidar ou reclamar, siga em frente. O espinho de hoje pode ser a flor de amanhã. É preciso saber esperar, dar tempo ao tempo para as coisas acontecerem naturalmente. Até mesmo as flores só mudam de cor quando chega a hora.
Rubem Alves ensinava que a arte de viver é a arte de não deixar que a chama se apague. E garantia: “As araucárias estão condenadas. As florestas estão condenadas. A despeito disso, vou continuar plantando as minhas araucárias, na louca esperança de que quem sabe um dia o poder será de novo dado à vida”.
Vamos lá, meu compatriota. Erramos com Collor, erramos com FHC, erramos com Lula, erramos com Dilma, erramos com Temer. Mas sempre nos restará a esperança de que daqui 100 anos tudo será diferente. E as flores brotem vermelhas.
As flores não florescem falta adubo.,
Zé: mande prender o Célio. Deixem-no na cela por um ano comigo, fechados e conversando. Só quero ouvir e dar meus palpites errados.
O tempo foi ingrato, pois perdi alguns bons anos de gastar horas na redação, no final do expediente (noite alta, céu risonho), avaliando e considerando a incidência dos raios gama na margarida do campo.
Salve, Célio.
Um abração,
Bitte
Célio tem toda razão; brasileiro vive de emoções e esperança. Vamos esperar, mais uma vez.