O Mendonça era um pacato e muito inteligente profissional. Metódico, ganhou até o apelido de “calculando”, porque era o pai da matéria quando se tratava de números. Mas havia um assunto que fazia seus hormônios borbulharem: escatologia. Não que mexesse com isso. Ele gostava de falar, procurar ou criar histórias a respeito. Seu chefe também gostava do assunto – daí que, quando o ambiente na repartição estava mais parecendo velório, gritava, olhando para o amigo: “Merda!”. No fundo da enorme sala o Mendonça se levantava e vinha correndo para saber qual era a nova. Um dia quase teve uma síncope de prazer e riso ao ouvir o relato sobre os quibinhos que certa pessoa muito delicada fazia. No dia seguinte ele apresentou ao chefe duas páginas escritas. Tinha descoberto outra paixão para equilibrar com o tema que poderia matá-lo. Começou a decifrar o que um assessor dizia – e o que pensava ao mesmo tempo, ao ouvir pedidos de gente que para ali telefonava atrás de informações. Mostrou, assim, que também era mestre em palavrões cabeludos.