Pagaram adiantado. Tinha que escrever como seria o futuro na era da informática. Acabara de frequentar um curso para sair da máquina de escrever para o computador pessoal. Não entendia nada daquela conversa dos técnicos. Parecia que estavam com o rei na barriga porque sabiam as palavras em inglês e o que significava. Ele fez de conta que ouviu e foi tratar de ir atrás de quem pensasse grande, pra frente, bem pra frente. Também boiou, mas tinha de escrever, o dinheiro já gasto. Se trancou no apartamento imundo e inventou tudo. Hoje, anos depois, lembra-se apenas de um ambiente claustrofóbico que descreveu. Era aquela sala onde estava, mas clean, toda branca – e sem paredes. Telas mostravam paisagens de um passado distante. Lá fora todos usavam máscaras para não morrer com a poluição. Elogiaram o trabalho. Ele ficou feliz. Agora é um velhinho que não sai mais do mesmo apartamento. Escreve a caneta. Parker 51. Teve computador, mas um dia perdeu um longo texto por descuido e jogou a máquina pela janela. Quase matou um vizinho. A Remington é apenas decoração e recordação. De vez em quando vai para a janela olhar as mulheres que passam. Ele chora. Foi tudo muito rápido.