20:23ZÉ DA SILVA

Perguntaram se ele gostava do passado. Disse que não. Nem do presente. Mas do futuro… Insistiram: por que então gostava de recordar tantas coisas, até do cheiro do estojo de tampa do tipo esteira, multicolorida. Disse que não sabia, mas que aquilo vinha naturalmente e era um grande aprendizado que não conseguia esclarecer direito, mas fazia bem. O estojo, por exemplo, guardava caneta tinteiro e foi assim que começou a escrever e descrever o que via. Por exemplo: o dia em que uma lousa caiu na cabeça da professora, a Lourdes; ou então aquele garoto que, tímido, ficou com medo de pedir para ir ao banheiro e acabou fazendo nas calças dentro sala de aula – o que rendeu uma dispensa inesperada para a turma. E o futuro? Disse que não esperava, mas queria o estojo de volta, que procura sempre na internet e lojas de antiguidades. Para saber como é o mecanismo que faz a tampa desparecer sem ser retirada.

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