por Zé da Silva
Acharam um pião meu no meio de umas tralhas na garagem. A fieira estava enrolada nele, como se quisesse protegê-lo. A tampinha amassada com o buraco feito por prego – e por onde passava o cordão para que ele virasse um anel e desse segurança para o lançamento, era de Grapette. Lembrei que a trouxe do Rio de Janeiro, depois de tomar o refrigerante na praia de Copacabana, num dia tão iluminado que até doía os olhos. A criança que se manteve aqui dentro tinha uns oito, nove anos. Guardei o momento e a tampinha. Na volta eternizei tudo com a fieira do melhor pião, o imbatível, pintado com esmalte em três cores – o que zunia bonito feito nossa vida de pobre na vila de ruas de terra e terrenos baldios. Ele me acompanhou durante todo o tempo, mas desapareceu nas mudanças de casas. Surgiu há pouco. Estava em cima de um móvel na sala de jantar. Eu olhei. Ele olhou. Ficamos felizes. Agora é rodar, rodar, rodar.