por Zé da Silva
Vesti o manto de Arthur Bispo do Rosário e fui parar naquela curva no alto do morro onde dava para ver a cidade toda, lá embaixo. Atalaia. Beba Jurubeba. Beba Jurubeba. Montei na serpente de asfalto e desci até ser parado por um bando de crianças buchudas e de umbigos estufados. Ranho no nariz. Meu povo é feio, magro, anêmico e queimado de sol. Um aperto de mão pode quebrar ossos. Forte como a frase, aquela. Uma senhorinha se ajoelhou e gritou que eu estava flutuando. Padim Ciço reencarnado em simbiose com Antonio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Corisco e Antonio das Mortes. Olha a Papo Amarelo na minha mão direita! O tiro da 44 foi dado pra cima e a bala começou a percorrer o Brasil. Estava sendo chamada pelos pústulas. Não parou mais. E eu ali, na beira da estrada, com o manto cada vez mais colorido e iluminado – e o povo se juntando em volta, até a hora que choveu como nunca e uma flor brotou na entrada do que um dia já foi um engenho. Não precisei falar nada. O sangue dos bandidos estava irrigando a imensidão da nossa terra.