14:23Henning Mandell, adeus

Da AFP:

Best-seller de livros policiais, escritor sueco Henning Mandell morre aos 67

O escritor sueco Henning Mankell, autor de romances policiais, morreu nesta segunda-feira (5) vítima de um câncer, aos 67 anos. A notícia foi confirmada por seu editor, Dan Israel, com quem fundou a editora independente Leopard, em 2011: “Morreu de maneira tranquila enquanto dormia em Gotemburg [região sudoeste da Suécia]”.

Mankell ficou famoso mundialmente pela série de livros protagonizada pelo detetive Kurt Wallander, em que apresentava uma visão desiludida da social-democracia escandinava.

Ele revelou em 2014, em uma coluna para o jornal, que enfrentava a doença. “Minha ansiedade é muito profunda, mas consigo, em grande medida, controlá-la”, disse Mankell, a respeito do câncer. Ele escreveu sobre a experiência em seu último livro, “Quicksand: What It Means to be a Human Being” (em português, areia movediça: o que significa ser humano).

Mankell “descreveu os corredores obscuros do modelo nórdico”, afirma o jornalista e autor Olivier Truc, especialista no gênero literário noir. O autor sueco, que vivia entre a Suécia e Moçambique, era um dos principais nomes do romance policial nórdico, ao lado de Jo Nesbo, Arnaldur Indridason e daqueles que são considerados os “pais” do gênero, Maj Sjöwall e Per Wahlöö.

“Assumia seu papel de crítico a uma democracia social que traiu a classe trabalhadora”, completa.

Nesbo lamentou a morte do colega. “Ele deu continuidade e modernizou a tradição escandinava de ficções sobre o crime, que data desde Sjöwall e Wahlöö, tanto no estilo como no conteúdo. Ele foi um dos pioneiros na literatura policial da Escandinávia, se não o autor mais importante.”

BEST-SELLER

Ele vendeu 40 milhões de livros ao longo de sua carreira. Romancista e dramaturgo, deixa uma obra considerável de quase 40 títulos, mais de 10 protagonizados pelo detetive Kurt Wallander, e vários voltados para o público infantil.

No Brasil, sua obra é traduzida pela Companhia das Letras, que publicou títulos como “Assassinos sem Rosto” (2001) e “A Quinta Mulher” (2012).

Ele era casado com Eva Bergman, de 70 anos, filha do cineasta Ingmar Bergman, falecido em 2007 e com quem o escritor tinha uma boa relação.

Sua série sobre o inspetor Wallander, ambientada no sul da Suécia, teve início em 1991 com “Assassinos Sem Rosto” e rendeu fama mundial ao escritor, que aumentou depois que a obra foi adaptada para a televisão no Reino Unido em uma série protagonizada por Kenneth Branagh.

“Henning Mankell foi um dos grandes autores suecos de nosso tempo, amado por leitores na Suécia e em todo o mundo”, destaca o comunicado da Leopard.

“A solidariedade com os mais fracos e os oprimidos atravessa toda sua obra como um fio vermelho”, completa o comunicado da editora.

O autor sueco passava alguns meses do ano em Maputo, a capital de Moçambique, de onde “observava o mundo de um ponto diferente de nossa Europa etnocêntrica”, afirmou em 2011.

Desde que visitou pela primeira vez o continente africano, nos anos 1970, ele gostava de afirmar que vivia “com um pé na neve e outro na areia”.

Quando era questionado sobre o lugar que considerava o centro da Europa, respondia “a pequena ilha de Lampedusa, no sul da Sicília”, onde chegam a cada ano dezenas de milhares de imigrantes.

Escritor e ativista, Mankell integrou em junho de 2010 a frota humanitária com destino a Gaza interceptada por uma unidade israelense.

“Nenhum bloqueio na história mundial perdurou eternamente. […] Ninguém aceita a submissão. Mais cedo ou mais tarde, Israel viverá o que aconteceu com o sistema de apartheid na África do Sul”, disse o escritor. “Sou um homem indignado com as injustiças e as desigualdades.”

“A escrita era vital para Henning”, afirmou Dan Israel, citado pela agência TT, que visitou o autor poucos dias antes da morte.

“Ele pensava em escrever um novo livro de Wallander nos 25 anos de aniversário da série, no próximo ano.”

“Com certeza acreditava que resistiria por mais tempo contra a doença”, concluiu o editor.

Em setembro de 2014, ele escreve um artigo otimista para o jornal britânico “The Guardian”. Dizia que era possível conviver com o câncer, e mesmo combatê-lo.

“Nunca é tarde demais. De alguma maneira, tudo ainda é possível. Minha condição nesta úmida noite de setembro é fazer de uma vez por todas o que o câncer não conseguiu tirar de mim. Ele não roubou minha alegria por estar vivo, ou a minha curiosidade sobre o que o amanhã nos reserva”, escreveu Mankell.

 

 

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