15:42O poeta atleticano faz declaração alviverde

por Paulo Leminski

“Hoje, quinta-feira, 1 de agosto, em Curitiba, o céu amanheceu branco e verde. Os passarinhos só diziam: Lela, Lela, Rafael, Rafael. E no ar pairava um forte cheiro de pólvora de foguete e pó-de-arroz. Nada mais me restava a não ser filosofar: “Não se pode ganhar sempre”. E, guiado por meu atrapalhado coração atleticano, fui até o mastro no meu jardim onde tremula o pavilhão rubro-negro e fiz descer a bandeira de meus sonhos. E foi com um misto de pesar e júbilo que pus em seu lugar e hasteei as campeoníssimas cores do nosso arquiadversário, hoje, aqui e agora, para sempre Campeão Brasileiro de 1985.

Um demônio (ou um anjo?) vestido de preto e vermelho (um Exu?) me sussurrava, brabo com o Tobi na grande área do Bangu: “Teu time é tua pátria, Traidor. Vendeste a alma por um escanteio, Vira-Casaca. Então, foi para isso que te demos tantas alegrias?” Nesse momento, recebi um passe do Índio e, vendo que eu estava em campo livre pela esquerda, o demônio rubro-negro preferiu a falta, mas, antes que me atingisse, toquei a bola na perna dele, e foi para lateral a meu favor.

Foi isso, tudo isso. E muito mais. Foi ver uma equipe coesa, coerente, bem orquestrada, enfrentar os Faixas pretas do futebol brasileiro (cariocas), e sair na frente. Foi ver um time de um Estado de poucas glórias atlético-esportivas explodir no “Templo máximo” do futebol brasileiro. Foi muito bom saber que futebol não é só de cariocas, paulistas, mineiros e gaúchos.

E, se o título foi nosso, pode bem ser de pernambucanos, baianos, catarinenses, capixabas, de goianos e matogrossenses, brancos, negros e mulatos queridos de meu Brasil, que escrevem com os pés a arte maior do meu país.

*Publicado na revista Placar

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