por Sergio Brandão
Não saberia dizer quando isso tudo começou, essa bagunça que fizeram com a numeração das camisas dos times de futebol. Não acho que o jogo jogado é pior por causa disso, mas esculhambaram com os números.
Não faz muito tempo que o goleiro era o 1, o lateral direito o 2, os zagueiros 3 e 4, o esquerdo 6, o volante 5, e assim por diante, até o 11. Se quiser ir um pouco mais longe, o lateral direito já chegou um dia a ser o camisa 4.
Não era todo mundo que podia vestir especialmente a camisa 10. O camisa 9 tinha que ser o clássico camisa 9, com todas as características de centroavante. Havia inclusive a exigência do tipo físico para o centroavante. Tinha que ser alto, forte e no mínimo ter alguns predicados. Além de alto, precisava ter chute potente, cabecear e driblar. Fazer teste nos clubes? Ninguém ousava se apresentar como centroavante se não fosse tudo isso.
Hoje, além de não ser necessário nada disso, o centroavante pode ser qualquer número. O centroavante do Coritiba, por exemplo, não é 9. O do Atlético também. Rafhael Lucas do Coxa é 99 e Walter do Atlético é 18. Se jogassem há alguns anos, o Coxa ficaria na primeira peneira. Mede 1,74 m, certamente um dos mais baixos centroavantes da história do Coritiba.
Não se trata de nenhuma crítica à qualidade do artilheiro. Pelo contrário, gosto dele. Fazia tempo que o Coritiba não tinha um atacante com esta qualidade. Mas Rafhael Lucas é 99, não é o 9 .
Esta associação do número com a posição está tão incorporada ao futebol, que até hoje, mesmo com o meia armador do time usando a camisa 20, por exemplo, mesmo assim, se referem a ele como o 10 do time. O centroavante ainda é o nove, apesar do 99 ou do 18 ou de tantos outros números que usam para a posição.
Com boa vontade, parece que em alguns clubes ainda preservam a mística da camisa 10, mas isso por conta de uma instituição do futebol que foi Pelé.
Embaralham os números e distribuem no vestiário. É esta a impressão que me dão quando vejo o time formado em campo antes do inicio de uma partida. A escalação dada pelos repórteres de rádio é coisa de maluco. Dizem eles lá: O Coritiba escalado com Bruno – 29/ Norberto 40 / Leandro Almeida 44 / Lucas Claro 3/ Carlinhos 30… e assim segue.
Junto com esta bagunça que fizeram com os números, coincidentemente o futebol também deixou de ser o mesmo.Não se trata de um lamento saudosista. Apenas sinto saudades de olhar para um lateral direito com a 2 , com os zagueiros vestindo a 4 e a 3, de um volante com a cinco, de um centroavante com a 9 e principalmente o clássico ballet dançado por um legítimo 10.
Aliás, estes mesmos atletas que chegam, assinam contratos, juram amor eterno, beijando o escudo do clube e quando terminam a temporada metem o clube no “pau” e vão resolver suas pendengas na TRT. Lá pedem direito de arena, salários atrasados e vão embora.
Não fazem mais a referência como antes, de estar ligado a uma posição em campo, e defender aquela região do gramado como a soberania de um zagueirão que veste a 2.
Ótimo comentário do ótimo Sérgio Brandão.
Faltou dizer que o anão-gigante Ardilles, que conquistou o United Kingdom logo depois da Guerra das Malvinas, jogou a Copa de 78 com a camisa 1. O goleiro Fillol usou a 5.