Tinha um muro ali. Nada a ver com o monólito de 2001, aquele da odisseia do Kubrick. Se Graciliano viu o quintal e as árvores no fundo da casa em Quebrangulo na infância, a minha não tinha fundos e era um quase cortiço que, na frente, tinha um poço que também metia medo. Evitei o muro o máximo que pude, mas ele me acompanhava – porque aqui dentro. E se transformava em pessoas estranhas, outras conhecidas, situações fora da rotina. Depois, tantas coisas que, na verdade, quase me anulavam para a vida como ela é. E ele também eram palavras. Na verdade, uma, quando o grito das suas entranhas dizia NÃO, para tentativa maior de querer sair daquilo através de um querer. Numa longa viagem até o cinema no centro da megalópole, um não pode assistir ao Maior Espetáculo da Terra foi a abertura para o inferno, onde eu via tudo duplo. Só um benzedor curou, assim como o escapulário me protegeu. Mas não por muito tempo. A jornada foi longa, as catacumbas várias, até que fui bater a cara nele, no muro – e quebrei os ossos da alma, e fui morrendo até… saber que o inferno somos nós. O muro? Voei por cima, ou seja, pra dentro, até descobrir que era feito de papel crepom e à disposição para se construir uma vida tranquila.