6:34NELSON PADRELLA

Nesta hora da noite
em que até o pão tem um gosto agressivo de cigarro
lembro que um dia disse:
– Mãe, vou ser soldado.

Minhas botas tem um jeito de espera
e a farda jogada sobre a cama
anula um gesto qualquer de liberdade.

A vida espia nas frestas da parede
E este corpo – velho camarada –
Aguarda a ordem de ataque ou fuga
sem ânsia e sem paixão.

Sinto que há tambores silenciosos
e fuzis na noite
que a voz de comando ficou
guardada para um dia melhor.

Minhas botas e a farda esperam
testemunhas pacíficas da luta.
Sinto que há um brilho de ódio
no silêncio das esperas.

                                           (1958) 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.