A Folha de S.Paulo, um dos principais jornais do país, completa hoje um século de existência. A manchete “Folha, 100, continuará relevante se respeitar direito à informação de Sua Excelência, o leitor”, que dá o tom ao editorial (leia abaixo), é clara, simples, direta e perfeita para estes tempos sombrios que atravessamos. Merece apoio e os parabéns do signatário, que ali começou a caminhar na profissão como revisor em 1976.
Editorial da Folha de S.Paulo
Folha, 100
Jornal será relevante em novo século se respeitar direito do leitor à informação
Esta Folha completa nesta sexta (19) 100 anos de existência. Em qualquer atividade, são poucas as organizações, públicas ou privadas, que chegam à marca. Menos ainda as que têm como atividade o jornalismo profissional, em sua vertente crítica.
A celebração é espartana, conforme o momento e a praxe interna.
O jornal não é o mesmo de 1921, obviamente, quando surgiu como contraponto moderno e inquieto aos diários da elite de então. Esse traço viria a definir seu DNA e lhe daria o “espírito de imigrante”, numa feliz definição posterior.
Foi a partir do fim dos anos 1970 e na década seguinte que a Folha ganhou relevo nacional, primeiro com a abertura de suas páginas para o debate público, depois com a campanha pelas eleições diretas. São dessa época as diretrizes que até hoje balizam sua conduta e sua relação com o público.
Seu compromisso basilar, como saberão os leitores mais assíduos, é com o jornalismo apartidário, crítico e pluralista. Não se trata de um conjunto estanque de princípios; ao contrário, a busca desses objetivos sempre impõe reflexões e reorienta as práticas cotidianas.
O apartidarismo implica distanciamento em relação às forças políticas, o que permite escrutinar com independência o poder em todas as suas formas e instâncias. Dificilmente um veículo de imprensa movido a preferências políticas e ideológicas seria capaz de trazer à tona fatos impactantes que governos tão diferentes quanto os de PSDB, PT e do atual presidente gostariam de manter ocultos.
Ao expressar seus pontos de vista, o que faz apenas nesta seção de editoriais, o jornal abraça a defesa de ideias, nunca a de candidatos ou agremiações. Essas opiniões sujeitam-se a ser reforçadas periodicamente com novos dados e argumentos, ou mesmo reformadas com a transparência obrigatória.
O jornal se sabe falho e não pretende impor certezas —eis o que move o seu pluralismo. Suas páginas continuarão abertas a manifestações de todos os setores representativos da sociedade e a diferentes versões e interpretações dos fatos, sem que se abandone a tarefa de buscar o relato mais fidedigno possível, apresentado de maneira atraente em qualquer plataforma.
A atmosfera crítica e a premência temporal que envolvem a produção do noticiário exigem contrapartidas para que excessos, injustiças e erros não evitados sejam corrigidos. A Folha é o único dos grandes veículos brasileiros a manter um profissional encarregado de fiscalizar a si própria. A retificação de informações é diária, explícita e mandatória.
Em microcosmo, o jornal reflete os mecanismos da governança mais exitosa jamais concebida pela humanidade, o Estado democrático de Direito. Porque os indivíduos são movidos em parte pelas paixões e os interesses, há que constituir instituições harmônicas e independentes, que pelo seu entrechoque previnam a tirania e facilitem o progresso inclusivo de toda a comunidade nacional.
A Folha não acredita que seja possível o desenvolvimento material e espiritual da sociedade brasileira fora dos marcos da democracia representativa. A pobreza e a desigualdade serão reduzidas à medida que mais parcelas da população tiverem acesso a oportunidades, seja na economia, seja na política.
Cumpre desconcentrar o poder e diluir as oligarquias, algo que não será realizado sem a fiscalização dos Poderes instituídos sobre o Executivo, no setor público, nem a vigilância do jornalismo profissional, na sociedade civil.
O jornal milita, igualmente, pelo consenso iluminista, a defesa das liberdades individuais e das minorias, a diversidade em sua feição mais abrangente e a soberania da ciência sobre o obscurantismo.
Pela primeira vez sob a Constituição de 1988 os veículos como a Folha se defrontam com um adversário do regime, adorador de autocratas e torturadores, na Presidência da República.
Os desejos de destruição da imprensa independente que com frequência escapam da boca do mandatário são manifestações de uma contrariedade mais profunda, contra as amarras que o impedem de portar o cetro e a coroa ou a farda.
A vantagem de um jornal centenário neste momento é vislumbrar a perspectiva da História. A energia despendida agora para preservar as liberdades duramente conquistadas não terá sido em vão. As angústias serão superadas, e a marcha das conquistas civilizatórias, cedo ou tarde, retomada.
Os próceres do despotismo ficarão pelo caminho, apagados pela névoa do tempo. A causa da Folha é maior e mais forte. O jornal seguirá dando sua contribuição à aventura do desenvolvimento justo, democrático e solidário do Brasil nos próximos cem anos, desde que mantenha o compromisso com o direito à informação de Sua Excelência, o leitor.
Não é bem assim não, meu caro. Sou leitor da Folha há muito tempo, talvez um pouco mais do que vc.
Deixei de ler regularmente o Folha porque percebi ausência de isenção naquela bananada com o Collor; tolerar as mazelas petistas, das quais vc sabe muito bem. Atualmente a Foice escalou três jornalistas só pra desancar o pobre do Bozo, que queira-se ou é muito menos ruim do que os petistas Lula e Dilma. Isenção da Folha ? Só se for tributária !!!
Você não gosta da folha por que ela não fala e nem deve falar bem do seu querido “MITO” por que é doido pra vocês alguém jogar a verdade em vossas caras