DIÁRIO DA PANDEMIA
*O Censo de 2021 está cancelado. Corremos o risco de não saber quantos somos, o que somos e para onde vamos. Para onde vamos não precisa nem pesquisar. Ladeira abaixo, rumo ao desconhecido. O que somos não vou dizer para não parecer mal educado. Quantos somos? Quantos somos pergunto eu, que a cada dia mais e mais se amplia o número de brasileiros que partem sem sequer se despedir de amigos e familiares.
*Fala-se em volta às aulas. Se as escolas forem reabertas quero ver se consigo matricular aquele menino no curso de Boas Maneiras. A vergonha que me fez passar na Suíça! O professor tinha perguntado sobre a soma do quadrado dos catetos, e o que é que cara faz? Ensaia cantar o hino americano. Como não consegue tenta o parabéns pra você. E responde ao professor que cateto é pra ser caçado mesmo, deixar só um porco vivo, o que vai posar para a célula, sêmola, cédula de duzentas merrecas. Até o professor tentou facilitar as coisas, e disse: “mas não é um cachorro do mato?” E o aluno respondeu:”Quem, eu?”.
*Era mais ou menos meia noite quando, assaltado por lembranças antigas, gritei “bento que bento frade”, e todas as vozes da infância responderam “frade”. Dei sequência ao sonho: “Na boca do forno”, e novamente as vozes daquelas crianças que comigo dividiram a infância responderam: “forno”. “Tirai um bolo”. “Bolo”. Aí, para completar a brincadeira gritei mais alto ainda: “Fazei tudo que o seu mestre mandar?” Fiquei aguardando o “fazeremos todos”, mas só o silêncio assoprava em meu quarto. A saudade de coisas imprecisas levou-me a repetir a pergunta aos amiguinhos de um ontem sepulto na memória: “Fazei tudo que seu mestre mandar?” E a resposta veio cristalina e em bom som: “Cala essa boca, lazarento, e vai dormir”.
GRANDES CONSELHOS MÉDICOS: Aplique generosa quantidade de pomada de croroquinhas para facilitar a mastruçagem com ozônio.