8:22Valentia de Moro com sua comadre é coisa manjada

por Elio Gaspari

Se não aceitava o que dizia Bolsonaro, esse era um problema dele com o capitão

No seu depoimento à Polícia Federal o doutor Sergio Moro voltou a tratar da ursada que fez com a deputada ultrabolsonarista Carla Zambelli.

No dia de sua demissão ele divulgou uma troca de mensagens com a senhora na qual ela escreveu: “Por favor, ministro aceite o [Alexandre] Ramagem e vá em setembro para o Supremo Tribunal. Eu me comprometo a ajudar a fazer Bolsonaro prometer”.

Moro respondeu: “Não estou à venda”.

Valentia de WhatsApp é coisa manjada. Zambelli nada fez de condenável. Pediu-lhe que aceitasse uma coisa que não queria fazer. E daí? Comprometeu-se a azeitar sua nomeação para o Supremo. Nada de anormal, sobretudo tratando-se de uma parlamentar, mas Zambelli era mais que isso.

Dois meses antes, Moro e sua mulher haviam sido seus padrinhos de casamento com o coronel da PM cearense Aginaldo de Oliveira, chamado por colegas de “Caveira”. Doutor Moro dançou “La Vie en Rose” com a comadre Zambelli e discursou, chamando-a de “guerreira”.

No depoimento à Polícia Federal, Moro disse que “lamenta muito ter repassado mensagens trocadas em privado, mas que não teria como aceitar as afirmações feitas pelo presidente”. Há uma certa sonsice nessa frase. Se não aceitava o que dizia Bolsonaro, esse era um problema dele com o capitão, a comadre não precisava ser envolvida.

Após passeata de Bolsonaro, Toffoli pode revolucionar STF e alugar dependências do prédio

Depois da passeata de Bolsonaro em direção ao Supremo Tribunal Federal e da realização de uma reunião nas dependências da Corte para discutir uma de suas decisões, o presidente Dias Toffoli pode revolucionar a história da Casa, alugando dependências do prédio para outros eventos.

O salão nobre, com sua salada de móveis, serviria para coquetéis. O salão Branco serviria para velórios e o dos Bustos acomodaria festinhas de aniversários de crianças.

Papagaios da crise

Existem dois tipos de papagaios: o de pirata, que aparece atrás de quem quer que seja, e o de crise. Este é especial, vive no andar de cima e canta o que os ministros da Economia querem ouvir. Guilherme Benchimol, da XP Investimentos, brilha nessa espécie, mas exagerou.

Quando a curva dos mortos apontava para a marca dos dez mil e num só dia ia-se para o recorde de 600 óbitos, o doutor disse o seguinte:

Eu diria que o Brasil está bem. Nossas curvas não estão tão exponenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar. (…) O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo”.

De fato, um funcionário da XP foi contaminado pelo vírus em fevereiro, durante uma viagem à Itália, mas favela “dificultando o processo” é coisa que nunca se ouviu.

Benchimol fala bem de si ensinando que “todo fundo do poço tem uma mola”. Descobriu, mas não entendeu, que no fundo do poço há também favelas.

CURIÓ, OUTRO MITO

Bolsonaro recebeu o “Major Curió” no Palácio do Planalto e, mais uma vez, aos 85 anos, Sebastião Rodrigues de Moura foi identificado como um dos principais militares envolvidos no combate à guerrilha do Araguaia. Essa qualificação é falsa.

Ele é apenas o mais exibido, com fortes momentos de mitomania.

Nos tempos estranhos de hoje, Curió pode ser lembrado pelo ângulo de seu mito e do abstruso envolvimento de militares na política.

Enquanto os outros oficiais que estiveram no Araguaia voltaram à caserna, ele manteve sua influência na região. Primeiro, distribuindo terras. Depois, enroscando-se no garimpo de Serra Pelada, a maior mina de ouro a céu aberto do mundo.

Nessa condição, liderou os garimpeiros na maior revolta popular já ocorrida na Amazônia. Curió elegeu-se deputado federal e, pelo PMDB, tornou-se prefeito de uma cidade batizada de Curionópolis. Em 1975, quando não havia mais guerrilha no Araguaia, foi preso no Sul do Pará um sujeito que não sabia dizer de onde vinha nem para onde ia. Curió interrogou-o, ele se confessou guerrilheiro e trouxe-o para o Rio de Janeiro.

O general Leônidas Pires Gonçalves, chefe do Estado Maior do I Exército, pediu que seu assistente fosse buscar o preso no Galeão. No caminho, o sujeito contou que a família o mandava para o Rio quando precisava de internação hospitalar. Ao chegar ao DOI, o oficial mandou fotografá-lo e determinou que fizesse uma checagem nos hospícios da cidade.

Horas depois, uma patrulha voltou:

— Positivo, capitão, ele é freguês do Pinel.

(O doido, guerrilheiro confesso, havia ficado seis semanas preso com direito a fuzilamento simulado.)

*Publicado na Folha de S.Paulo

Uma ideia sobre “Valentia de Moro com sua comadre é coisa manjada

  1. Meno

    Primeiro os meus, segundo Mateus
    Nesta guerrilha interna pesam outros fatores. Salvar a família Bolsonaro teria a benção do Presidente para ser indicado a suprema corte.
    No fundo a indicação tem seu preço, blindar ações suspeitas que possa incriminar os patrocinadores, é
    partida dobrada.
    Na política prevalece o jogo de interesses em função da utilidade estratégica.
    Bolsonaro usa às forças Armadas para intimidar seus oponentes, e recheia pontos chaves do poder com generais. Quer instrumentalizar o estado e perpetuar no poder. Por isso, cria intrigadas com congresso, Supremo, imprensa e todos que sejam óbice para seus planos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.