Porque nunca é tarde para o espanto, do G1
Cleverson Petreceli Schmitt, acusado de matar o escritor Wilson Bueno, em maio de 2010, em Curitiba, foi absolvido pelo júri popular realizado há uma semana, entre 31 de março e 1º de abril, no Tribunal do Júri, no bairro Centro Cívico. À época do crime, o escritor tinha 61 anos e foi encontrado morto com golpes de faca dentro de casa pelo irmão de criação João Santana. A absolvição ocorreu por quatro votos contra três. O julgamento durou mais de 15 horas.
“Eu e a minha família não entendemos ainda porque inocentaram ele. Estamos indignados porque ele matou, confessou e foi libertado. Onde os jurados estavam com a cabeça quando fizeram isso?”, indaga João.
O réu foi preso em junho de 2010 na casa da família em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, e confessou o crime que, de acordo com João, ocorreu logo após uma discussão por causa de um cheque. “O acusado era garoto de programa. O meu irmão o conheceu em uma sauna gay e deu o cheque para que ele ajudasse a desmontar uma casa. Durante o depoimento, o rapaz disse que o cheque era para pagar um programa e que tinha sido sustado. Isso é mentira. O meu irmão não sustou o cheque”, declara João. De acordo com as investigações, o réu ficou irritado por não conseguir sacar o dinheiro e foi tirar satisfações com o escritor.
A defesa de Cleverson, representada pelos advogados Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida e Maurício Zampieri de Freitas, relatou ao G1 que “a tese foi de negativa de autoria”. “Resumindo a questão da prova pericial falou mais alto”, disse Matheus.
“No início da investigação ele confessou o crime, mas, ao longo do processo, as provas produzidas no ambiente sereno do Fórum, com a garantia do contraditório, a defesa conseguiu aliar ao conselho de sentença, aliado às provas periciais, que essa confissão não fechava”, acrescentou Matheus. Questionado sobre quem seria o autor do crime, o advogado relatou que não cabe a ele a investigação.
Segundo ele, Cleverson estava preso na Penitenciária Central do estado, em Piraquara, e deve deixar a prisão até o final da manhã.
Obras de Bueno
A obra mais conhecida de Bueno, que integra antologias nacionais e internacionais, é “Mar paraguayo”, de 1992, escrito em “portunhol”, uma mistura de espanhol, português e guarani, onde se conta a vida de uma sofrida mulher e “el viejo”.
Pela editora Planeta ele publicou “A copista de Kafka”, “Amar-te a ti nem sei se com carícias” e “Cachorros do céu”. O escritor tinha entregue ainda um original, ainda inédito, chamado “Mano, a noite está velha”, ainda sem data para publicação.
“Wilson Bueno era um dos mais inventivos escritores brasileiros em atividade.” Assim o também escritor Joca Reiners Terron resumiu o autor de 61 anos.
Para Terron, que está lançando seu novo livro, “Do fundo do poço se vê a lua”, Bueno era “o patriarca do Portunhol Selvagem, um poeta que nunca baixou a guarda diante das limitações do público e arriscou tudo em sua linguagem”, diz se referindo à linguagem explorada por Bueno em “Mar paraguayo”.