por Gerson Guelmann no blog … e tudo acabou em Sfiha
Há poucos dias o Brasil comoveu-se com a fala da Professora aposentada Diva Guimarães. Com 77 anos e neta de escravos, dona Diva nasceu no norte do Paraná e mora em Curitiba.
Na Flip, em Paraty, ela foi aplaudida em pé e levou os presentes às lágrimas. Ainda que esse não tenha sido o mote, a Professora Diva mexeu na ferida que não cicatriza: a da Curitiba do ranço racista e discriminatório. A certa altura, ela disse:
– “Vai viver em Curitiba como negro e morador da periferia…”
Sim, existe a Curitiba que é a terra de todas as gentes; a Curitiba que acolheu emigrantes como os meus avós e os de tantos outros; a Curitiba solidária que doa o pão, o sangue, a sopa e a medula; a Curitiba que dá exemplos e que também encabula.
A Curitiba de que falou dona Diva é a do grande comício integralista de 1937; a Curitiba onde grupos neonazistas comemoram o aniversário do maior canalha da história e a Curitiba onde foram vandalizados os túmulos do Cemitério Israelita; a Curitiba onde skinheads perseguem e matam negros e homossexuais e a Curitiba que elegeu Plínio Salgado deputado federal; a Curitiba do advogado negro barrado em casa noturna e a Curitiba onde a “Guerra do Pente” começou com discussão com comerciante árabe.
Existe a Curitiba da Europa nos bairros elegantes e a Curitiba do Sudão na periferia. A Curitiba que a gente ama também nos engana.
Ela tem razão, um dos lugares em que vi a maior repulsa do povo local por gente de fora foi em Curitiba, tem aversão a todos, claro que com as ressalvas de sempre, há seres humanos esclarecidos sob esse manto de preconceito.