por Célio Heitor Guimarães

Os mais recentes fatos estão a comprovar aquilo que todo mundo já sabia: patifaria não tem partido político nem ideologia. O grande poeta pernambucano Bezerra da Silva, pós-graduado na malandragem carioca, tinha razão, já em meados do século passado: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.

O curioso é que quando a coisa explode, graças à atuação da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário não contaminado ou da imprensa, os governantes fazem cara de surpresa, garantem-se inocentes, mas nenhuma prova disso oferecem.

Cá na província, o outrora garboso Charles Albert Richard (apud G. Must) está sendo acusado pelo MP de improbidade administrativa pela “batalha” do Centro Cívico – anuncia, em manchete, a Gazeta do Povo. Como “grande comandante da segurança pública” estadual, o governador (assim como as principais autoridades da área) teria violado dois direitos fundamentais: de reunião e de livre manifestação, além de colocar em risco o patrimônio público e a vida das pessoas, quando a PM resolveu descer o sarrafo nos professores em greve.

Isso “é pinto”, como diria um grande amigo meu, diante da desordem em que o menino Richa deixou a administração pública do Paraná no seu primeiro (des)governo. E daquele primo (distante, vá lá, mas com livre trânsito no gabinete governamental) que cuidava do conserto e reforma dos veículos oficiais na oficininha mecânica dele em Londrina e andou metido nos malfeitos da fiscalização da Receita Estadual lá também na bela ex-Capital do Café. Para descobrir que, se arrecadava dois, não podia gastar quatro – ainda que isso lhe parecesse um “ato de coragem”, como afirmou à Folha de S.Paulo –, foi preciso importar da Bahia um economista de quem ninguém ouvira falar aqui na terra dos pinheirais. Aí, ficou-se sabendo que as primeiras diárias de hotel do futuro secretário da Fazenda estadual foram pagas por empresa daquele primo distante. Talvez tenha sido o próprio a fazer a indicação do “novo baiano”. Com que interesse, já que, segundo o governador, primo distante não é parente?

Na área federal, a companheira Dilma continua cada vez mais pálida e abatida – e não seria por causa do regime alimentar a que vem se submetendo nem pela passagem do tempo. E também tem “pinto” naquele terreiro: a desarrumação econômica e os 82,1% de desaprovação do eleitorado. Isso não é nada diante da língua solta do empreiteiro Ricardo Pessoa. Língua ressentida é fogo! Pessoa ficou boa temporada no xilindró da Polícia Federal esquecido pelos antigos parceiros de festança com o dinheiro público. Deu o troco: apontou todos os beneficiados pela propina arrecadada da Petrobras. Gente do PT, mas também gente do PTB, PMDB, PP, PSB e até do PSDB tão crítico e puro. E narrou como era “persuadido” a contribuir com o caixa do PT: “O senhor tem obras no governo e na Petrobras. O senhor quer continuar tendo?”.

Nos EUA, onde esteve para beijar a mão de Barak Obama, a “presidenta” valeu-se da distância e apregoou aos quatro ventos que “não respeita delator”. Mas respeitava quando precisava do dinheirinho dele. E se esqueceu que a lei que regulamentou a delação premiada foi assinada por ela. Além disso, por favor, minha senhora, não tente comparar a delação decorrente da revelação espontânea de crime, legalmente prevista, com aquela que a ditadura militar pretendeu extrair de v. exª. quando a manteve no cativeiro, nos idos de 1964.

– Não admito e jamais admitirei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade – disparou a companheira.

A questão não é de insinuação, excelência. Ricardo Pessoa, apontado como chefe do clube dos empreiteiros investigados pela Operação Lava-Jato, diz ter provas da distribuição da grana no maior esquema de corrupção da história do Brasil. E já entregou aos Federais, segundo se noticia, quarenta pastas de planilhas e documentos indicando o caminho do chamado dinheiro sujo. Nem se constrangeu em assumir o papel de rei da propina, fosse ela para campanhas eleitorais, para figuras carimbadas da República, para líderes sindicais a fim de evitar greves ou para ministros do TCU com o objetivo de liberar obras de seu interesse. Um marginal completo. Nem por isso o insigne José De Filippi Jr., então tesoureiro de Lula, deixou de receber dele, com gosto, a módica oferta de R$ 2,4 mi para a campanha de reeleição do chefe.

Por falar no “chefe”, por onde anda ele? Sentindo a água bater no pescoço, ameaça ingressar na oposição a Dilma. Diz que ela está “no volume morto” (da popularidade?) e tem se queixado publicamente da “presidenta”, como se nada tivesse a ver com a presença dela no Palácio do Planalto e com a conduta do atual governo. Coisa bem própria dele. Se eu fosse ele, aliás, tratava de fazer a reserva de um lugarzinho ali na gruta do jacaré do Parque Barigui, debaixo da água, onde se fica respirando por um canudinho.

Lembre-se que o pessoal da Odebrecht acaba de ser descoberto pelo juiz Sérgio Moro. A Odebrecht, Luiz Inácio… Aquela descolada empresa que concluiu o seu apartamento duplex que jazia inacabado na praia do Guarujá e deu uma geral, com considerável acréscimo, no seu sitiozinho de Atibaia… Vai que aquele diretor que o dr. Moro manteve preso resolve falar…