O melhor professor de jornalismo dele foi um guri de uns 12 anos que trabalhava numa banca de jornal. Todo dia, depois do almoço, ele percorria um quarteirão com a edição do vespertino dobrada e colocada embaixo do braço para entregar para o outro, que trabalhava servindo cachaça, cafezinho e fazendo sanduíches na lanchonete do pai. Em troca, o garoto ganhava uma xícara de café com leite. Encostado no balcão, para dentro só aparecia a cabeça com os olhos curiosos. Conversavam pouco, mas conversavam. Eram amigos sem firulas. O que iria ler o vespertino nos períodos de folga, tinha 16 anos. Se apaixonou pelas fotografias, que abriam espaço na capa e chamavam mais que as manchetes para as longas reportagens, com textos que estavam mais perto da realidade do que qualquer outra coisa. Às vezes ele sentia cheiro, via o ambiente descrito, imaginava até a voz de quem falava ali para o repórter. Mais tarde, sem saber para onde se encaminhar profissionalmente, foi por esta trilha – e sobreviveu nela. Jornal da Tarde.