todos enforcados. eu vi com esses olhos que os vermes hão de comer. pendurados no arame. pescoços esticados. ficaram ali junto a uma parede por mais de um dia. eu passava, olhava – e não entendia. pensava: se era uma festa de casamento, pra que isso? vi o velho fazendo o serviço sozinho. acho que ele tinha mais de oitenta anos. mas quanta disposição… não falava uma só palavra em português. cada um que ele enforcava lhe dava prazer. o brilho nos olhos e o sorriso diziam isso. como fazia sempre, depois disso ele foi relaxar no ofurô no meio do quintal. não se importava de andar nu por ali, apesar de haver outras casas e pessoas no mesmo terreno. ficava um tempão imerso na água quente. às vezes cantava. em japonês. naquele dia cantarolou mais. era o filho que estava para casar. e a os frangos enforcados ali perto dariam o que comer.