ROGÉRIO DISTÉFANO
Onde vamos parar? É a expressão comum entre uma das quatro categorias do brasileiro diante da crise atual: econômica, social, institucional e acima de tudo política. Fiquemos na política, que engloba todas. Quem se pergunta e nos pergunta ‘onde vamos parar’? É a categoria que chamo de depressivo cívico, daquele que se sente esmagado pelos escândalos e pelo cinismo dos homens públicos – com ajuda e cumplicidade de homens privados. Esse depressivo abate-se diariamente com o noticiário, não sente a mais remota possibilidade de melhoria. Derrotado, o Brasil pesa-lhe aos ombros, como a vida para os depressivos em geral.
Falei em ‘categorias. Nestas não vige abatimento, desânimo, dúvida ou quebrantamento.. São três, a saber: os órfãos de Lula, os afilhados de Bolsonaro, e os indiferentes. Os dois primeiros se parecem, vistos no plano bíblico poderíamos chamá-los de irmãos, como Caim e Abel, os irmãos que venderam José ao Egito e destilam uns aos outros aquele rancor só possível entre irmãos. Não têm depressão, mas vivem alimentados e fortalecidos pelo ódio: os órfãos de Lula odeiam os afilhados de Bolsonaro e vice-versa. Buscam a volta de seus líderes com métodos iguais: Lula diz que ainda prenderá os rapazes da Lava Jato; Bolsonaro quer o retorno da ditadura militar.
Órfãos e afilhados sabem o que querem: destruir um ao outro. O ódio conduz a isso, por ser alimentado todos os dias, seja pelo que entendem como calúnias, seja pela própria frustração por aquilo que perderam ou pelo que podem ser impedidos de ter ou recuperar. E há os indiferentes, de matizes que vão da alienação completa à atitude contemplativa do espetáculo. Os contemplativos interessam aqui. Porque não agem, seja pela índole indolente, seja pelo ceticismo com a natureza humana, que para eles subsistiu e chegou aqui na disputa desigual entre a barbárie e a civilização. Para eles a batalha final será vencida pela barbárie.
Aí, aí , aí vi-me agora descrito entre os indiferentes, só a espera da barbárie, que é o que teremos a partir de 2019. Com clima de ódio crescente teremos entre nós uma reedição do que hoje se passa na Venezuela. Quem sobreviver verá.