9:23Pensando bem…

Rogério Distéfano

A ignorância é a mãe de todos os males”. O diagnóstico do francês François Rabelais ecoa há seis séculos. Numa revisão dos dez mandamentos, entraria fácil como o décimo-primeiro…se a ignorância não impedisse. A humanidade convive com ela desde que assomou como aglomerado de seres racionais. Por isso a ignorância é um dos mais expressivos atributos da racionalidade. Os animais, sorte deles, são imunes à ignorância.

Ela gera filhos e produtos, exponencialmente. São o preconceito, o radicalismo, as guerras, isso visto no geral. No particular, temos o fanatismo de todas as ordens, tivemos Inquisição, nazismo, fascismo, estalinismo e agora o terrorismo. Esses são os superlativos da ignorância, seu macrocosmo. Mas somos assolados a toda hora pelo seu microcosmo, agora difundido e amplificado no abuso da liberdade de expressão na internet e nas redes sociais.

Acessar um blog – sobretudo aqueles que toleram o desvio do contraditório sem critério – ou um portal de notícias, é como destampar a latrina do cérebro, o que há de mais podre que a alma pode produzir, como a podridão das podridões, a calúnia, produzida e santificada no anonimato dos pseudônimos covardes. Acompanho  no gizmodo.coma expressiva demonstração de ignorância do último 4 de julho, quando se comemorava a Independência dos EUA.

A NPR, emissora pública publicou, nos 140 caracteres permitidos, em tuítes sucessivos a Declaração da Independência das 13 colônias inglesas da América, de 1776, em relação à coroa britânica. Entre seus redatores estavam Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, que nela afirmaram as razões e os princípios que eram negados aos colonos pelo governo britânico. As razões e os princípios desde então fazem parte da agenda universal da liberdade.

A Declaração consagra o direito de resistência ao governo tirano, sua derrubada; a liberdade inerente à condição humana; o direito de não ser tributado além do limite que comprometa a subsistência e o patrimônio; a livre escolha dos governantes, entre outros. A NPR foi assolada por tuítes de contestação, que a acusavam de subversiva, de atingir o governo do presidente Donald Trump, comparada ao Exército Islâmico, movimento terrorista inimigo dos EUA.

Os tuítes de contestação trazem uma verdade “evidente por si mesma”, para usar a expressão clássica da Declaração: a ignorância do povo norte-americano é a razão de seus males – que o leitor informado sabe quais são. Um deles, desconhecer a pedra fundamental da própria nação. Nada por acaso, os tuítes trazem as digitais dos eleitores de Donald Trump, mais da metade dos votos para presidente.

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