Rogério Distéfano
ELE PERCEBEU minha surpresa. Aquele não era o Reinaldo que conhecia de tanto tempo. Barba por fazer, despenteado, roupas folgadas, em desalinho, olheiras, até um pé dos sapatos desamarrado. Fingi, ‘tudo bem?, quanto tempo, quais são as novas? Ele entendeu: “tou mal, tá na cara”. ‘Dinheiro, doença, desamor?’, perguntei dos três dês de sempre. “Todos os três conjuntamente juntos”, lembrou resgatando a frase sem graça da juventude.
“Ainda leio suas coisas”, era o velho Reinaldo com sinal de vida. “Dia desses você comparou o cara do Supremo com o monstro bocudo da Guerra nas Estrelas”. A coisa não está tão séria, já que ele se distrai no blog. “Fui derrubado pelo lado negro da Força”. Aí me caiu a ficha, tinha que ver com Virgínia, paixão de décadas de Reinaldo, romance que nasceu na puberdade e avançou aceso pela menopausa. Os dois iam e vinham, para mim incompatibilidade entre Escorpião e Virgem, para ele o pai e a irmã de Virgínia.
“Você lembra do velho, enfurnado em casa, uma trava na vida dos filhos”. Era o pai de Virgínia, depressivo crônico, caso clínico, breve ao amor e sua luxúria. Morto o pai, ficou a irmã, uma bola de ferro atada ao tornozelo da amada, a reprovar sem palavras o romance de Virgínia. O pai, o lado negro da força, prendia Virgínia numa invencível atração de culpa e cobranças. ‘Pensei que com a morte do velho vocês dividiram o copo das escovas’. “Ficou a irmã”, responde Reinaldo, “e o império contra ataca”.