Carlos Alberto Pessoa, o Nego Pessoa, não morreu, como avisaram por aí. Ele resolveu entrar num beco, numa travessa dessas de Curitiba que ele conhecia e transformou em livro, mesmo porque andava a cidade (andar não significa amar), e fez o corpo sumir para sempre. Trombamos por aí algumas vezes. Ele vivia da invenção própria. Torrou uma fortuna porque fortunas herdadas são feitas para isso. Sobrevivente, um dia o flagrei na frente de uma geladeira cheia de garrafas e latas de cerveja. Gritei, de longe: “Te peguei”. Ele se virou lentamente e, na mão, tinha uma latinha de Fanta. Pensei e disse a ele que aquilo só podia ser coisa de maluco. Entrevistei-o no programa “Musga na Cachola”, na rádio do padre Manzotti. Não lembro mais a conversa, mas sim que ele levou música clássica para tocar. Gostava muito do esporte bretão, como ele ajudou deixar na memória. Era Coxa Branca e trabalhou para o Atlético Paranaense. Isso é sonho de qualquer profissional que se preza. Escreveu livros. Viveu a vida retumbante. Aí, sem avisar, foi, mas vai ficar nesta terra onde não parava muito tempo nos locais onde se metia a trabalhar, porque essas coisas não combinavam com ele. Agora lembro que depois da gravação do programa ele me levou a uma padaria perto do estádio Joaquim Américo. Encheu a bola dos pães de lá. Pegou alguns e eu paguei. Isso porque ele não veio ao mundo para pagar, mas para cobrar – e ai de quem reclamasse. Amém.
Grande cara. grande cronista. Baita perda
Imensa tristeza!
Gente da melhor espécie e caráter, inteligente, objetivo e sincero em seus comentário. Grande perda para o Paraná.
Mais um santo que vai embora marchando…
Caminhando, Ivan. O Nego Pessoa não marchava; caminhava. E como! Só que chegou muito cedo ao destino dele. Irati e os seus amigos choram a sua ausência.
Sai da vida e entra para a galeria dos mitos curitbanos. Manoel Carlos Karam, Paulo Leminski…Figuraça! ps. Eu sei que o Nego e o Karam não eram curitibanos. Só que sim.
Zé Beto, talvez o Ivan tenha feito uma referência ao hino gospel (http://www.lyricsfreak.com/l/louis+armstrong/when+the+saints+go+marching+in_20085348.html).
E, se me lembro bem do Nêgo Pessoa, ele adoraria ir marchando atrás de uma banda em que o Satchmo desse o ritmo.
(PS: se segura, malandro! não quero mais perder nenhuma das minhas referências boas de Curitiba!)