por Célio Heitor Guimarães
Não sei onde foi que li. Acho que na revista Veja. Alguém afirmou que sem Lula a esquerda brasileira fica sem candidato nas próximas eleições. Duas correções são necessárias desde logo.
A primeira: não existe mais esquerda no Brasil. Nem esquerda nem direita. Apenas ardilosos malandros, mal-intencionados, de ambos os lados. Com objetivos comuns e todos reprováveis. A população tem nojo deles, quer distância deles, e faz muito bem.
A bem da verdade, não sei se já houve realmente esquerda e direita nestas terras de Santa Cruz. Isso é tema para o especialista Ivan Schmitd. Mas desconfio que aqui, no frigir dos ovos, a direita e a esquerda seguiram apenas a tradição de seu nascedouro, durante a Revolução Francesa, quando se prestavam, tão somente, para indicar o lugar onde os políticos sentavam no parlamento francês – à direita ou à esquerda da cadeira do presidente.
De esquerda-esquerda, consciente filosoficamente, autêntico e obstinado, só conheci um militante aqui em Curitiba: o saudoso Walmor Marcellino. Já a chamada elite, que dizem simbolizar a direita, sempre existiu e sempre existirá propensa ao domínio, queiramos ou não. Os opositores, ainda que alcancem algum sucesso no embate, no mais das vezes, acabam sendo cooptados e se integram a ela, como ocorreu com o mencionado Lula da Silva.
A segunda correção: Lula nunca foi da esquerda, nunca representou a esquerda, sequer sabe o que significa (ou significava) esquerda. Lula sempre foi só Lula. Durante um tempo, apresentou-se como líder sindical. Tinha (e ainda tem) bom papo, de fácil convencimento, capaz de iludir a plateia. No poder, revelou-se um oportunista, uma fraude, um deslumbrado com as benesses da Casa Grande. Instalado no trono, transformou-o em balcão de negócios. Cuidou da segurança financeira do partido, da família, da companheirada, aparelhou o Estado e petizou o Brasil. Em seguida, transmutou-se em lobista internacional de grandes empreiteiras e no palestrante mais caro do país, com custo equivalente ao do presidente Clinton, do EUA, sem precisar pronunciar uma palavra sequer. Um fenômeno, convenhamos. Agora, está condenado pelo Judiciário, só no primeiro processo que lhe move a Procuradoria Geral da Justiça, a nove anos e meio de reclusão, prestes a ser aferrolhado ou, como se diz no jargão policial, recolhido aos costumes.
Lula não sofreu com a ditadura militar por questão ideológica. Quando presidia o Sindicado dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), foi preso por promover a baderna.
Ideologicamente, certa feita, Lula da Silva confessou-se “um liberal”. Deve ter achado bonito o termo, sem saber que, segundo o filósofo Bobbio, uma sociedade liberal é marcada pelas desigualdades sociais.
A ideologia de Lula é a ganância, o prestígio pessoal, a manutenção do poder. Apenas Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outras figurinhas menos conceituadas da cultura brasileira acreditam que Lula é de esquerda. E, como tal, capaz de promover a luta pelos direitos dos trabalhadores e da população mais pobre, promover o bem estar coletivo e a participação popular nos movimentos sociais; ser, enfim, a favor das minorias. Pura ilusão. Ele já teve essas oportunidades e apenas fingiu exercê-las, como se sabe. Aliás, é de seu antigo companheiro de luta sindical Tito Costa, ex-prefeito de São Bernardo, a opinião de que Lula abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente ao ambicioso e impatriótico projeto de poder.
“Lula” – pontuou Tito – “optou pela equivocada implantação de uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem”.
Nem todos, Tito. Desgraçadamente, nem todos.