18:47HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Capricórnio

Cartier Bresson disse que não é necessário uma máquina para se fazer fotografia. Pensei nisso quando estava para sair do pequeno apartamento para ver a exposição que marcou os dez anos da morte do mestre. Deixei até o celular em cima da cama, andei meia quadra no final daquela tarde e entrei na escada rolante dentro do tubo transparente e exposto do museu Georges Pompidou. À medida que ia subindo em câmera lenta para o último andar, a visão da cidade com prédios antigos e baixos ganhou o toque deslumbrante de um enorme sol vermelho na linha do horizonte. Senti falta da Canon, do Motorola, qualquer coisa para registrar aquilo, ainda mais que na paisagem a torre Eifel sobressaía, querendo espetar o céu. Na escalada ao topo, no entanto, as palavras de Bresson se entranharam na alma – e fizeram sentido. A foto estava feita – aliás, várias, enquanto o sol se escondia. Eram minhas, só minhas. No máximo eu poderia descrevê-las, o que, de fato, é nada diante do presenciado. Entrei no museu. O que mais me encantou naquelas mais de quatrocentas peças, incluindo filmes a respeito do grande fotógrafo, foi um caderno espiral que ele transformou em seu primeiro livro, pois colou ali os registros que fez ainda adolescente. Fotos do momento mágico que antecede ao clique – e que eternizam o que a alma e o coração registraram.

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